A comunicação de massas refere-se à distribuição de ideias por um grande numero de pessoas, e o cinema é uma das ferramentas de comunicação das massas mais importantes da nossa sociedade moderna. Os filmes têm uma forte influência no pensamento das pessoas, e podem criar uma nova tendência social ou política, capazes de mudar as ideias que temos. Desde o nascimento do cinema que esse poder tem sido usado em todo o mundo, e tal não foi diferente para o cinema espanhol.
A Espanha esteve debaixo do regime do ditador Francisco Franco durante quase 40 anos, o que levou ao cinema espanhol cair numa situação caótica, de censura e repressão. Mas, antes de avançarmos para o cinema espanhol em si, temos de recordar os eventos históricos, que ajudam a compreender a situação que se viveria no cinema durante os anos seguintes.
A perda de poder e território no início do séulo XX, em África e nas Américas, resultou em desconfiança e instabilidade na sociedade política espanhola. Em 1931 foram realizadas eleições, e os republicanos venceram as principais cidades, o que significou o fim da monarquia, e o rei, Alfonso XIII, teve de deixar o poder e o país. No entanto, o novo governo ficou com 4 grandes problemas principais: o pedido de independência da Catalunha e o País Basco, a hostilidade entre a Igreja Católica Romana e os Republicanos, a crise económica em curso, e o desemprego.
A classe trabalhadora perdia a fé na Republica, e os políticos não conseguiam resolver os problemas. Aumentava a raiva e o desconforto na sociedade, e os quatro grandes grupos (militares, industriais, proprietários de terras e a igreja Católica Romana retiravam o apoio aos republicanos.
Em 1932 o General José Sanjurjo realizava um golpe militar mal sucedido, e um novo partido da direita era fundado, o CEDA. A instabilidade do governo foi seguida de greves e motins, com o presidente Azana a renunciar, e a serem marcadas novas eleições em Novembro de 1933, que foram ganhas pelo CEDA. A primeira coisa feita por este partido foi reverter todas as mudanças feitas pelo partido de esquerda, uma abordagem que criou raiva entre estes, com outro partido a ser fundado, a Frente Popular.
Em 1934 a Frente Popular organizou uma greve de mineiros nas Astúrias, que foi parada pelo General Francisco Franco, usando o seu poder militar. Para evitar o caos, novas eleições foram marcadas, e a Frente Popular ficou no poder.
No entanto, os politicos da direita não ficaram satisfeitos com os resultados, e apoiaram uma ditadura militar. Os militares estavam prontos para assumir o comando do país, com Franco a ser o lider das forças militares na altura. A esquerda não podia fazer mais nada senão resistir, e a Guerra Civil começou em Julho de 1936, terminando em 1939, quando os republicanos perderam Madrid. Um dos conflitos mais devastadores da história da Espanha.
Durante a guerra o cinema foi usado como uma arma politica por ambos os lados. O objectivo era convencer a população a combater do seu lado contra o seu inimigo, e justificar as suas acções tomadas durante a guerra, com o documentário a ser o tipo de filme preferencial.
A industria estabelecia-se em cidades republicanas como Barcelona e Madrid, e isso levou a direita a encontrar alternativas para produzir filmes, ou controlar o cinema que resultava na fundação do Departamento Nacional de Cinematografia, em 1937. No ano seguinte, por ordem ministerial (BOE 5/11/38), era criado o gabinete de censura cinematográfica. A sua principal função era observar, e se necessário censurar, os filmes que apresentavam propaganda social, política ou religiosa contrárias ao regime.
No final da guerra a vitória de Franco era altamente previsível. A maioria dos realizadores, produtores, actores, argumentistas republicanos não teve outra alternativa senão deixar o país. Emigravam para países como França, México ou Argentina, onde continuaram a trabalhar e produzir novos filmes. Foram anos em que o cinema Espanhol passava por uma intensa transição política, ética e filosófica. Segundo o jornal oficial do estado passava agora a haver censura de filmes e dobragem obrigatória para filmes estrangeiros, mas a censura de filmes já tinha começado com a guerra ainda a decorrer.
Os temas mais relevantes do novo regime eram a religião, as vitórias do lado nacionalista, dramas e comédias folclóricas. Franco pretendia “hispanizar” a cultura, voltar às raízes e usar o cinema para promovê-la. Durante esta primeira parte do ciclo, até inicio da década de 50, vamos ver uma série de filmes que transportam bem este estado. Depois, mais para a frente começaremos a ver filmes contestatários ao governo.
Vai ser um longo ciclo, com cerca de 50 filmes que certamente vos ajudarão a compreender melhor o que era o cinema espanhol. A partir de segunda-feira publicarei uma série de livros que vos ajudarão a compreender melhor o ciclo. Depois, os filmes. Até já.
que venga el toro!
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