domingo, 3 de maio de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: "O Deserto dos Tártaros", de Valerio Zurlini

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O trigésimo terceiro convidado é o grande cineasta português, verdadeiramente português, Manuel Mozos, que escolheu O Deserto dos Tártaros de Valerio Zurlini.

Sinopse: No meio do deserto, dentro de um forte, um grupo de soldados espera por um inimigo que tarda em chegar. Soldados e oficiais sobrevivem de forma honrada, tentando respeitar as regras. Mas os dias, os meses, os anos passam e absolutamente nada acontece. Sentindo-se espiritualmente encarcerado, o jovem tenente Drogo (Jacques Perrin) tenta obter um atestado médico que o isente da sua nova posição. Mas o seu pedido é recusado e Drogo não tem outro remédio senão adaptar-se a uma vida solitária e, a seu ver, claustrofóbica e inútil. Baseado no romance homónimo de Dino Buzzati, "O Deserto dos Tártaros" foi considerado o melhor filme do ano nos Prémios David di Donatello e valeu a Valerio Zurlini o Prémio David para melhor realizador. Com música de Ennio Morricone, autor das bandas sonoras de títulos como "Era Uma Vez na América" (1984), "Os Intocáveis" (1987), "Cinema Paraíso" (1989), "Lobo" (1994) e "A Lenda de 1900" (1998).

Sobre o deserto, Zurlini escreveu a páginas tantas de Pagine di un diario veneziano que “houve um hábito antigo e apaixonado de outras viagens para outras terras que me ligou com uma atracção invencível ao deserto como a um espaço de liberdade incontaminada que me era secretamente agradável e no qual nunca me conseguia sentir sozinho. […] É lindo imergir na sua solidão não ameaçadora que não nos acolhe mas também não nos rejeita, perdermo-nos na sua imensidão indiferente até ao cair da primeira escuridão, descobrir a fantasia de uma vegetação petrificada milenar, encontrar esqueletos alisados pelo sol ou os poucos animais antediluvianos que o habitam sem o pesadelo da sede: cancelar as dimensões do tempo numa calma profundíssima que acalma suavemente todas as inquietudes no coração.” 
Falando-nos sobre a sua escolha, Manuel Mozos disse que «este é o último filme de Valerio Zurlini, um cineasta de que gosto particularmente, muitas vezes ignorado ou posto de lado. Não existe acção neste filme, apenas um grupo de soldados perdidos num deserto, num sítio que nem sequer é claro, à espera que aconteça algo que mude as suas vidas. O filme é só essa espera. E é isso que eu acho fantástico.» 

Amanhã, a escolha de Zina Caramelo. 

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