domingo, 9 de junho de 2019

Corredor (Koridorius) 1995

Sharunas Bartas é o cineasta mais peculiar que conheço. O seu cinema é estranho, difícil, rude, estático. Se Lynch não se preocupa em explicar o porquê das coisas, Bartas procura complicar ainda mais uma suposta elucidação. “The Corridor” não tem explicação, o filme é uma sucessão de imagens de um quotidiano bizarro naquilo que parece ser o que outrora foi uma fábrica e que devido a uma crise financeira e social está ocupada por várias pessoas que à partida não fazem nada. A ideia que o filme me transmite é que Bartas faz uma crítica sociocultural de uma Lituânia pós-soviética em que mergulhou numa fragilidade e depressão económica e social. “The Corridor” parece-me ser uma metáfora dessa desolação, dessa ideologia, dessa falta de identidade que o fim da URSS deixou. A semelhança com Tarr é irrefutável, embora o cinema de Bartas seja mais estático e onde abundam mais tempos mortos. Bartas filma uma “festa” numa cozinha onde os personagens se embebedam e dançam lembrando a cena de Tarr no seu “Sátántangó”. E tanto no filme de Tarr como no de Bartas penso que se define como o delírio duma sociedade perdida, desolada, depressiva e fragilizada. Diálogos, não há. Imagem é a preto e branco. Argumento está escondido nas expressões dos personagens. Nomes, não são precisos. Ou seja, simples e sem muitos artefactos, “The Corridor” é um filme em que são necessárias várias visualizações para o compreender. E mesmo assim…!
Texto de Álvaro Martins, daqui

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