Do simples ato de reunir fotografias de presos políticos no momento de suas prisões e deixar que seus personagens narrem suas circunstâncias, surgem as histórias de dor e resistência que permeiam toda a narrativa do regime militar no Brasil. A memória do período é trazida à tona e nos revira o estômago, porque nos deparamos com as assustadoras perspectivas do futuro da tão recente e ameaçada democracia brasileira. Tão longe e tão perto.
Dois ex-guerrilheiros são os responsáveis por atar as pontas das histórias contadas por essas fotografias: Suas prisões, suas torturas, seus exílios, suas perdas. Suas falas não são moldadas por um conjunto de perguntas lançadas por Anita, mas simplesmente pelo contato, às vezes o primeiro, com suas próprias imagens e as de seus companheiros. É exatamente nas pausas das falas que o filme fala mais alto. O embargo na garganta diante da rememoração. Exemplo: a imagem do silêncio de Reinaldo Guarany quando fala do suicídio de Maria Auxiliadora, a quem ele chama o tempo todo de Dôra.
O filme nos carrega entre dois tempos. Se temos Reinaldo e, antes dele, Roberto Spinoza relembrando a figura de Maria Auxiliadora, também nos é revelada a imagem e a voz de Dôra, que, em vídeos da época, nos narra sua própria tortura. Ela não sobreviveu, mas é como se a força de sua existência permanecesse como herança. Para não nos esquecermos de que sua luta não foi vã. Luto durante os setenta minutos de projeção. Luta depois."
* Texto de Juliana Soares Lima
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