segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Rebecca (Rebecca) 1940

É surpreendente que, apesar da sua longa e frutífera carreira e das várias nomeações recebidas, Hitchcock só tenha ganho o Óscar de Melhor Filme com a sua primeira película americana: "Rebecca". Talvez este facto seja indicativo do poder e influência do produtor David O. Selznick que, acabado de sair do sucesso de "E Tudo o Vento Levou" (1939), não deixou de passar a oportunidade de trabalhar com o realizador britânico nesta história gótica de fantasmas da autoria de Daphne Du Maurier.
Graças a um orçamento generoso, Hitchcock pôde transformar a mansão de Manderley numa personagem da película, gesto que mais tarde inspiraria Welles na sua concepção de Xanadu, em "O Mundo a Seus Pés". O palacete à beira-mar é o cenário nebuloso ideal para os amores atormentados de Joan Fontaine e Laurence Olivier. Este dá vida a um viúvo rico que corteja a inocente Fontaine e com ela casa após um romance meteórico. A protagonista nunca acredita na sorte que teve ao encontrar um homem tão atencioso, mas, à medida que a sua relação amorosa se aprofunda, vê-se assombrada pelo fantasma de Rebecca, a antiga e falecida esposa de Olivier. Serão as assombrações fruto de uma imaginação fértil e paranóia ou obra de uma força nefanda? E que relação existe entre estes acontecimentos estranhos e a senhora Danvers (Judith Anderson), a governanta sinistra que parece não dar paz a uma Fontaine à beira de um ataque de nervos?
"Rebecca" marcou a chegada auspiciosa de Hitchcock aos Estados Unidos e, na cerimónia dos Óscares de 1940, conseguiu mesmo derrotar a última obra britânica do realizador: Correspondente de Guerra. Quase todos os traços artísticos do cineasta estão presentes em "Rebecca" no seu esplendor: a omnipresença de um passado obscuro e misterioso que constantemente se intromete no romance malfadado dos protagonistas, as suspeitas à flor da pele e, como seria de esperar, a presença espectral e ameaçadora da desonestidade e traição. Faltam a "Rebecca" os gracejos espirituosos e o humor caracteristicos de Hitchcock. Todavia, esta ausência de leveza deve-se à natureza melancólica e gótica do romance de Du Maurier. Os segredos de Manderley empurram a ingénua Fontaine para o abismo da demência e Hitchcock diverte-se, intensificando gradualmente a tensão da película até à sua conclusão assombrosa."
 * Texto de Joshua Klein
Filme escolhido pelo Pedro Afonso. 

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