segunda-feira, 15 de setembro de 2014
De Punhos Cerrados (I Pugni in Tasca) 1965
Uma família da província está no centro do filme de estreia de Marco Bellocchio, o mórbido "I Pugni in tasca", que é literalmente um filme doente. Temos várias doenças que alimentam os membros da família: a mãe é cega, os filhos sofrem de epilepsia, o mais novo também é deficiente mental - são encarnações físicas das suas enormes emoções.
O jovem protagonista, Alessandro, é-nos introduzido ao filme a saltar de uma árvore, literalmente caindo no frame, como se tivesse sido largado do ar. Alessandro é conhecido por vários nomes (Ale ou Sandrino), vive longe do mundo ao seu redor, não se encaixa na sua família ou sociedade, e a sua vida é marcada por um constante tumulto, normalmente da sua própria criação. Tem tendências homicidas, que ele vê como uma solução prática para os problemas familiares, além de se portar como uma bomba prestes a explodir.
O protagonista é Lou Castel, um actor já com uma longa e variada carreira, mas um desconhecido quando Marco Bellocchio o escolheu para o papel principal. Na sua juventude foi muitas vezes comparado a um jovem Marlon Brando, não só devido à sua calvície prematura, mas também porque simultaneamente parece inofensivo e profundamente ameaçador.
O vazio da família é assumido pelo irmão mais velho, Augusto (Marino Masé), que é o mais convencionalmente normal da família. Frustrado com as responsabilidades que foram descarregadas sobre ele como irmão mais velho, depois da morte do pai, ele pretende casar-se com a namorada, e mudar-se para um apartamento na cidade.
Ao lado de "Antes da Revolução", de Bernardo Bertolucci, este filme marcava o início de uma nova era no cinema italiano, que era infinitamente mais política, e mais ousada, principalmente porque davam um pontapé no Neorealismo, que vinha a dominar o cinema italiano nos anos 40 e 50, com uma radical simplicidade, e um enorme humanismo. "I Pugni in Tasca" era um produto dos turbulentos anos sessenta, era em que a maioria dos países ocidentais foram sacudidos pela agitação política e divisões geracionais que se tornaram abismos intransponíveis. Lançado em 1965, a escassos três anos das revoltas estudantis de Maio de 68, o filme é atravessado por uma raiva reprimida, tal como o título sugere.
Existe algo sombriamente cómico sobre o filme. Bellocchio leva o assunto muito a sério, mas dá-lhe um tom um pouco absurdo que circula algures entre a comédia e o infortúnio. No entanto, o realizador nunca se afasta da tragédia pungente do filme, porque todos os membros da família se vêm uns aos outros como encargos, e portanto tentam sabotar a felicidade do outro. Eles são disfuncionais porque não conseguem ver nada de positivo uns nos outros, que reduz cada membro da família a um objecto, mais do que a uma pessoa.
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