segunda-feira, 10 de março de 2014
Fogo Fátuo (Le Feu Follet) 1963
Alain Leroy (Maurice Ronet) está a ter um tratamento num hospital privado por causa de um problema com o álcool. Embora ele ande constantemente angustiado com a vida, deixa o hospital e tenta encontrar alguns velhos amigos. Nenhum deles lhe será útil, aumentando ainda mais a angústia de Alain.
Louis Malle era frequentemente associado à Nouvelle Vague, muito por causa da idade que começou a fazer filmes (na casa dos vinte), e do período em que os começou a fazer (finais dos anos 50), mas era sempre um outsider dentro do movimento. Ao contrário de Godard, Truffaut e outros, nunca escreveu para os "Cahiers du Cinema", e veio de uma familia industrial rica, o que fez dele uma parte da burguesia estabelecida, contra a qual os membros da Nouvelle Vague eram contra. E também porque os seus filmes não pareciam nada os da Nouvelle Vague, eram claramente obras mais narrativas, e não tinham a estética dos outros filmes do movimento. De certa forma, eram polidos demais para ser da Nouvelle Vague.
Mas isto não pode ser dito de "Le Feu Follet", uma obra que muitos consideram ser o melhor filme de Malle, e, talvez não por acaso, o que está mais alinhado com a estética da Nouvelle Vague. Filmado quase como um documentário, de câmera ao ombro pelas ruas de Paris (que se tornam elas próprias uma personagem), tem uma narrativa solta, construída em torno de uma tema central, que nos dá as suas cenas de uma forma desconexa, de modo a construír um propósito. Inicialmente pensado para ser um filme a cores, Malle acabou por filmá-lo a preto e branco, criando um ambiente mais depojado, mais directo, que corresponde a uma maior crueza para o assunto a que está relacionado. Trata-se, como os melhores filmes da Nouvelle Vague, de um estudo de personagem, um homem que planeia matar-se porque só através da morte ele imagina conseguir voltar a ligar-se aos amigos que o rodeiam. Embora isso possa parecer um infortúnio, e é, mas um infortúnio requintado, de nos cortar o coração, que nos atrai para o mundo da personagem, e nos ajuda a compreender a sua morte eminente, assim como todos nós tememos a sua chegada.
Feito por razões extremamente pessoais, a história, desenhada a partir de uma novela de Pierre Drieu la Rochelle, estava ligada à própria turbulência interior de Malle, e funcionava como uma espécie de catarse, ajudando-o a exorcizar os seus próprios demónios. Ele sempre disse que fez o filme inteiramente para si próprio, e tinha ficado contente se nunca ninguém o tivesse visto.
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