sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
O Último Ano em Marienbad (L'année Dernière à Marienbad) 1961
Num enorme, e antigo hotel de luxo, um estranho tenta convencer uma mulher casada a fugir com ele, mas parece que ela mal se lembra do caso que presumivelmente tiveram (ou não), no ano anterior em Marienbad.
"L’année dernière à Marienbad", a segunda longa-metragem de ficção de Alain Resnais, e a primeira escrita pelo famoso novelista Alain Robbe-Grillet, e é muito mais do que qualquer coisa designada para provocar uma resposta. Quando estreou em 1961, estreia que até esteve quase para não acontecer uma vez que os distribuidores franceses rejeitaram-no até ele começar a causar reboliço nos festivais de cinema, tendo vencido o Leão de Ouro no festival de Veneza e dividido os críticos e a audiência: muitos diziam que tinham acabado de testemunhar uma obra-prima moderna, uma reinvenção literal dos parâmetros da linguagem cinematográfica, outros diziam que tinham acabado de perder 94 minutos com as pretensões de um autor fantasiasta, um filme vazio e sem sentido que levava os seus admiradores a pensarem que tinham visto algo importante. A divisão entre as pessoas era tão grande, que o jornal Le Monde conduziu uma poll depois do filme ter estreado durante quase um ano, para depois publicarem as conclusões numa página inteira, com os "pros" e os "contras" de verem o filme. Era exactamente isto que Resnais e Robbe-Grillet queriam, fazer um filme que incitasse e provocasse as pessoas, obrigando-as a falarem sobre o seu significado, e nesse aspecto conseguiram ultrapassar as expectativas.
A história é propositadamente, quase descaradamente, simples na construção, mas aberta à interpretação de que pode provocar qualquer leitura que lhe queiramos dar. A totalidade da história passa-se dentro de um hotel rico e luxuoso, povoado por homens ricos e mulheres em vestidos de noite, que são pouco mais humanas do que qualquer manequim que se consiga mover. Dando foco à memória e à escorregadia divisão entre realidade e fantasia, L’année dernière à Marienbad é uma extensão natural das idéias e temas do filme anterior de Resnais, "Hiroshima, Mon Amour", que era considerado um dos pináculos da chamada "Nouvelle Vague". Em ambos os filmes encontramos preocupações intelectuais com a natureza fragmentada da memória e as inseguranças das relações humanas são reflectidas nos seus visuais poderosos, por vezes enlouquecedores. Marienbad é um filme frequentemente descrito como de três personagens (o homem, a mulher e o marido), mas há sem dúvida uma quarta personagem, que é o próprio hotel. Resnais e o seu director de fotografia, Sacha Vierny, constroem o filme de composições precisas, e lentos shots que se movem por todo o hotel, fazendo com que os seus longos corredores e salas cavernosas pareçam pulsantes e vivos.
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