quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Trouble Every Day (Trouble Every Day) 2001



O pesquisador Shane Brown (Vincent Gallo) leva sua a nova esposa, June (Tricia Vessey), para Paris, em lua de mel. Sem a esposa saber, Shane está com problemas mentais que o obrigam a morder a sua parceira enquanto faz amor. O verdadeiro motivo para visitar Paris é para ver um cientista, Léo Semeneau, que, acredita, pode curá-lo do seu problema. Enquanto isso, a própria esposa de Léo, Coré (Béatrice Dalle), está num estado avançado da mesma doença e tem que ficar presa para impedi-la de seduzir outras vítimas...
Com uma invulgar mistura de erotismo e terror sangrento, este thriller chocante da aclamada realizadora Claire Denis foi obrigatoriamente controverso, mas poucos poderiam ter previsto a escala de reacções que teve. Desde a sua primeira exibição no Festival de Cannes em 2001, o filme provocou o público e a crítica por todo o mundo, com a maioria dos comentadores a condenarem-no violentamente pelo seu retrato explícito de canibalismo motivado sexualmente. Com muitos críticos a citarem o filme como depravado e imoral, a reputação de Denis como realizadora séria, sem dúvida que foi manchada, provavelmente sem justificação. Trouble Every Day foi vítima de um frenesim de excesso dos mídia, e provavelmente vai ser visto de outra forma, daqui a alguns anos.
Visto do modo correcto, Trouble Every Day é uma peça eficaz e instigante de cinema, sustentada por alguns valores de produção excepcionais. A fotografia lindamente melancólica e interpretações hipnotizantes (particularmente de Béatrice Dalle e Tricia Vessey) dão ao filme alguns momentos poderosos de humanidade, como a compaixão e a perversão a serem habilmente atiradas de um lado para o outro. Em contraste com a grande maioria dos thrillers americanos, o filme de Claire tem um genuíno mérito artístico e não é nada explorador. Quando filma o corpo humano, não é com um prazer lascivo perverso, mas sim para retratar a beleza, o estímulo dos nossos mais básicos desejos. Por filmar tão sumptuosamente a carne nua, como se fosse uma carcaça anónima, sugere que o desejo carnal tenha um duplo significado: a necessidade de fazer amor e comer carne são duas facetas do mesmo instinto primitivo.
Resumindo, Trouble Every Day é uma peça misteriosa de cinema que é tão convincente como é repugnante, uma variação sofisticada sobre o filme de terror convencional, com imagens que vão deixar uma impressão indelével em qualquer espectador. Embora não seja o trabalho mais completo ou satisfatório de Claire Denis, não nega as suas credenciais como uma realizadora de alto calibre com uma visão artística única. Com a cumplicidade de sua notável directora de fotografia, Agnès Godard, Denis oferece um estudo poderoso e credível do lado mais obscuro do desejo humano, uma evocação totalmente arrepiante de fantasia psicosexual e folclore do vampirismo. 

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