sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
Do Fundo do Coração (One From the Heart) 1982
Na década de 1970, não havia nenhum realizador que tivesse atraído tantos elogios como Francis Ford Coppola. Enquanto lançava quatro filmes nesta década, O Padrinho, O Padrinho - Parte II, The Conversation e Apocalypse Now, também pertencia ao movimento chamado New Hollywood, ao qual pertenciam realizadores como Steven Spielberg, Peter Bogdanovich e Martin Scorsese. Coppola era também um argumentista e produtor, que também ajudou as carreiras de George Lucas e Carroll Ballard. Embora a década de 1970 fosse um triunfo para Coppola, ele estava prestes a entrar noutra em que teve de enfrentar o fracasso, falta de dinheiro, e outros problemas pessoais.
Durante anos, Coppola desejava tornar-se independente e formar o seu próprio estúdio, onde pudesse criar os seus próprios filmes. Assim nascia o Zoetrope Studios, que começou como um estúdio independente que permitia a realizadores iniciantes terem um impulso para a sua carreira. Também era o lugar onde Coppola esperaria criar o tipo de filmes que queria sem a interferência de um grande estúdio. Para o seu próximo projeto, Coppola decidiu fazer uma obra que seria uma experiência completamente nova, a criação de um filme com novos gadgets eletrónicos para o cinema da época, no início dos anos 80. O filme era suposto ser pequeno, um musical romântico passado em Las Vegas. One from the Heart quase daria cabo da carreira de Francis Ford Coppola, e fê-lo andar no limbo por vários anos.
Originalmente com um orçamento de 2 milhões de dólares, era para ser filmado dentro de um estúdio no Zoetrope Studios para criar uma versão artificial de Las Vegas. Com a ajuda do diretor de fotografia Vittorio Storaro e o designer de produção Dean Tavoularis, a re-criação de Las Vegas, juntamente com outros cenários parecia ser difícil. Como Coppola queria experimentar novas câmeras, novos modos de filmar, e novas técnicas, acabou por ser construída uma cidade artificial, e a produção subiu em flecha para 26 milhões de dólares, isto para um filme lançado no início de 1982. Quando surgiram notícias sobre o seu orçamento final, era claro que Coppola estava prestes a entrar em apuros.
Dois anos antes, Michael Cimino tinha lançado "Heaven’s Gate", um western revisionista histórico passado nas Johnson County Wars, no final do século 18. Seria a continuação de Cimino para o seu aclamado filme de 1978, vencedor dos Oscares, The Deer Hunter, e por isso as expectativas estavam altas. Em vez disso, o filme com um custo de 40 milhões de dólares tornou-se num enorme desastre que iria levar a United Artists à falência, bem como trazer um fim à era de ouro da "New Hollywood", e dos seus realizadores-autores. Para Coppola, a produção e o lançamento de "One from the Heart" deixou-o nervoso, e o filme acabaria por ser um fracasso enorme, uma vez que só iria render 600 mil dólares na bilheteria durante a primeira semana. Depois disto, o realizador resolveu tirar o filme dos cinemas e iria passar o resto da década de 1980 e parte da década de 1990 a fazer filmes para saldar as dívidas.
Coppola acabaria por recuperar o dinheiro perdido, bem como reviver a Zoetrope como American Zoetrope. Mas, muitas pessoas não viram "One From the Heart", que começou a ser elogiado por um pequeno grupo de cinéfilos que o tinha visto com interesse, quando saíu. Em 2001, Coppola lançou uma versão estendida de Apocalypse Now chamada Apocalypse Now Redux, com grande sucesso, que o levou a decidir revisitar o filme que lhe tinha dado tantos problemas. Com a ajuda de Storaro e o executivo da American Zoetrope, Kim Aubry, Coppola fez algumas mudanças na montagem, e deu a "One From the Heart uma nova hipótese de ser visto.
Com argumento de Coppola e Armyan Bernstein, baseado numa história verdadeira, "One from the Heart" é a história de um casal cuja relação de cinco anos está a começar a desmoronar-se. Os dois caminham em mundos diferentes, como a mulher a apaixonar-se por um empregado de mesa, enquanto o homem é surpreendido por uma artista de circo alemã. Um retrocesso aos musicais e filmes românticos das décadas de 40 e 50, de produção abundante, é um filme em que Coppola combina esse estilo de produção pródiga, em sintonia com o mundo colorido dos anos 80. Interpretado por Frederic Forrest, Teri Garr, Raul Julia, Nastassja Kinski, Lainie Kazan, e Harry Dean Stanton.
A história do filme é bastante simples. Um rapaz e uma rapariga, namorados, separaram-se e conhecem os seus parceiros ideais, até perceberem que ainda estão apaixonados um pelo outro. Isso é muito bonito, e é parcialmente contado através da música do filme. A música de Tom Waits é o verdadeiro destaque, uma vez que não joga apenas com cool world de Las Vegas, mas também com o desejo de romance dos personagens. Com músicas e letras de Waits, as canções jogam até com o cerne emocional do filme, quando são cantadas por Waits e Crystal Gayle. A voz de Gayle sobe ao mesmo tempo de muitos momentos comoventes. A banda sonora acabaria por ser nomeada para um Óscar, a única nomeação do filme, e era a primeira fez que Waits trabalhava a tempo inteiro numa banda sonora.
O argumento é apenas um pano de fundo para o que Coppola quer criar, um filme mais sobre a parte visual do que sobre a história. Como a história não tem muito brilho, com uma enorme falta de tensão e surpresas, permite que Coppola crie sequências mais sobre o momento e os visuais. A realização de Coppola é definitivamente maravilhosa, não apenas a recriar Las Vegas, mas também a recriar um lugar de fantasia. Um puro filme de culto.
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