segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Libertação (Paisà) 1946



"Paisà", continuação de Roberto Rossellini ao seu inovador e internacionalmente aclamado "Roma Cidade Aberta" (1945), trabalha maioritariamente no mesmo território que o seu antecessor, e ao mesmo tempo pretende estender e elaborar as suas preocupações estéticas numa escala narrativa muito maior. Enquanto o filme anterior era firmemente enraizado num local específico, Paisà é um fresco geográfico em movimento, levando-nos lentamente para o norte da península italiana através de seis vinhetas com diferentes tempos de guerra a se desenrolar - alguns cómicos, alguns trágicos, mas todos profundamente humanos. O filme também difere de forma substancial do seu antecessor em termos de produção, como Roma Cidade Aberta a ser feito com muito menos dinheiro, enquanto Paisà foi financiado quase inteiramente por Rod Geiger (um soldado americano estacionado em Roma que tinha ajudado na distribuição de "Roma Cidade Aberta" nos EUA). No entanto, mesmo que as imagens sejam mais nítidas e mais consistentes, Rossellini mantém efetivamente o tom "tosco" do filme anterior, o sentimento do neo-realismo a sentir-se nas ruas, e, os seus melhores momentos, sentem-se como algo capturado, em vez de algo produzido.
O filme começa na Sicília e move-se constantemente em direção a norte, à medida que cada história vai sucedendo, refletindo, assim, o caminho real da libertação aliada da Itália, a partir de 1943. Cada uma das vinhetas não relacionadas narrativamente, o filme começa com imagens de noticiários e narração real que o situa dentro do contexto maior da Segunda Guerra Mundial, e cada história tem lugar num local importante: Sicília, Nápoles, Roma, Florença, Appenine Range e, finalmente Porte Tolle no delta do Pó. O facto de metade destes locais seram urbanos, e a outra metade rural, reflecte os espaços variados da Itália e também dá a Rossellini um espaço muito mais amplo para encenar o seu drama. Enquanto que ele fez algo semelhante em Roma Cidade Aberta, em termos de mudança de interiores claustrofóbicos para espaços abertos dentro da cidade, Paisà reflete uma profunda elaboração da ênfase de neo-realismo num local físico.
Paisà é um filme episódico, cada uma das histórias tem personagens completamente diferentes, sem ligações a personagens em qualquer uma das outras histórias, o filme é fortemente unido pelo tema da comunicação. Ao contrário de "Roma Cidade Aberta", Paisà não é sobre a batalha dos italianos com os alemães da ocupação, em vez disso, é sobre a sua relação ténue com os soldados americanos libertadores. Assim como as histórias do filme movem-se gradualmente em direção ao norte até à península, também há em cada história um aumento a nível de comunicação e entendimento entre os italianos e os americanos.
Este tema de ligação reflete-se no título do filme, que é um termo usado para se referir a alguém da sua própria aldeia. Na essência, Rossellini está a dizer-nos que os norte-americanos, os "estrangeiros", tornaram-se parte da Itália durante a libertação, o que vemos de forma bastante explícita no progresso das histórias, como o filme começa com soldados americanos cautelosos e desconfiados dos sicilianos totalmente incapazes de se comunicarem e termina com oficiais americanos a colaborarem e morrerem lado a lado com guerrilheiros italianos, razão pela qual de outra forma trágica o final do filme é na verdade um hino à cooperação e respeito. Rossellini faz o vai-e-vem do choque cultural e eventual entendimento numa profunda declaração sobre a natureza da interação humana e da solidariedade, e mesmo que o filme seja dificultado, por vezes, pelas interpretações, raramente o filme deixa de ser profundamente comovente.
Foi nomeado para um Óscar de Melhor Argumento. Escrito a vários mãos, entre os argumentistas contava-se um jovem Federico Fellini, que já havia colaborado no filme anterior.

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