quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A Porta da China (China Gate) 1957


Em qualquer outra filmografia "China Gate" seria descartado como um filme políticamente histérico, um thriller de ação delirantemente equivocado, mas a diferença é que esta obra de 1957, distribuida pela Fox, foi escrita, produzida e dirigida por Samuel Fuller. O patriótico Fuller tinha sido um soldado da infantaria na Segunda Guerra Mundial antes de se tornar um realizador de cinema, e também foi um jornalista e escritor comprometido, que expressava a sua política em termos muito claros. As mensagens nos seus filmes não são apenas sinceras, elas estão gravadas em cada cena. O cinema de Fuller foi erradamente chamado de "cinema primitivo" quando na verdade era muito original, cobrindo as manchetes dos jornais da altura. 
Fuller produziu China Gate de forma independente, no final da sua série de filmes para a 20th Century Fox. Basicamente, temos uma "Lost Patrol" numa missão secreta profundamente em território inimigo, que em vários momentos se assemelha a Apocalypse Now. O argumento original de John Milius para Apocalypse Now usou vários elementos cómicos que também são vistos aqui. China Gate não é um filme tão caricatural como tinha sido "Hell and High Water", mas o seu ódio ao comunismo é ainda mais forte. No soberbo Pickup in South Street, Thelma Ritter afirma que odeia comunistas, mesmo que não possa justificar o porquê. "China Gate" explica-nos que a resposta é a insidiosa, má, e sorrateira Teoria do Dominó.
Na verdade, a hostilidade da Guerra Fria em China Gate de Sam Fuller, partilha a mesma ênfase com um tema racial e sentimental. Algures na Indochina francesa (leia-se Vietname) os legionários civilizados estão a segurar as forças totalitárias de Minh.O comandante francês precisa de enviar uma equipa para a fronteira do país, para a colina chinesa conhecida como a China Gate, para localizar e explodir armas indescritíveis de destruição em massa, enviadas "diretamente de Moscovo". O capitão pede ao ex-soldado norte-americano, agora mercenário Brock (Gene Barry ) para liderar o grupo. Mas para chegar com segurança e passar pelos "checkpoints" inimigos, eles precisam de "Lucky Legs" (Angie Dickinson). Uma beleza da Eurásia resistente, com o filho (Warren Hsieh), Lucky Legs conhece todos os oficiais inimigos, em especial o Major Cham (Lee Van Cleef), o líder zeloso no comando do depósito de China Gate. Há apenas um problema - Lucky Legs não quer fazer parte da expedição porque Brock é o seu ex-marido, que a abandonou quando descobriu que o filho parecia um oriental.
China Gate começa com um prólogo expositivo que será do agrado apenas daqueles que acreditam que a América ganhou no Vietname, que a ocupação colonial francesa foi uma coisa boa, e que os comunistas vietnamitas foram bonecos a lutar pela Rússia, e não para repelir os inimigos. Ho Chi Minh é julgado um bandido e a campanha francesa é homenageada pela região como uma esperança de liberdade contra o totalitarismo dominante.Fuller quase imediatamente desliza para o melodrama à moda antiga. Introduzido os seus famosos planos impressionantes que se estendem através da tela em Cinemascope, Lucky Legs é logo vista a atravessar os escombros depois da queda de um pacote de ajuda preciosa de pára-quedas. Era a ajuda dos EUA. As coisas por aqui estão tão difíceis que o cão do seu filho corre perigo de ser comido pelos locais. Fuller estabelece uma trégua antagónica entre Legs e Brock, que ainda não consegue suportar a idéia de que o seu filho tenha aparência asiática ( o diálogo evita cuidadosamente as descrições pejorativas típicas dos asiáticos). 
As amargas imagens finais reforçam o "paternalismo americano" racista, expresso em "Battle Hymn" de Douglas Sirk, e que persiste no estabelecimento da propaganda sobre as relações ocidentais-vietnamitas. John Wayne plagiou este final no seu filme "Os Boinas Verdes".

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