domingo, 29 de setembro de 2013

O Quadro Negro (Takhté Siah) 2000



A primeira sequência é um long shot do que parecem ser criaturas aladas de duas pernas que andam na estrada. Logo percebemos que eles são homens com quadros negros amarrados nas suas costas. O filme segue dois desses homens, professores, que estão a tentar ganhar a vida ensinando nómades analfabetos. Esta não é uma tarefa fácil, perto da fronteira com o Iraque. Um dos homens, Rebooir (Bahman Ghobadi, que dirigiu "A Time for Drunken Horses") encontra um grupo de rapazes transportando contrabando para o Iraque. Apenas um dos rapazes está interessado em aprender. Os outros não têm tempo para parar e aprender, mesmo que eles o queiram. O outro professor, Said (Said Mohamadi) reúne-se com os nómades tentando voltar para o Iraque. Eles estão perdidos.
A jovem realizadora Samira Makhmalbaf (A Maça) tem um olho afiado para contar histórias, e mostra-nos isso na sua segunda longa metragem. Com pouca profundidade emocional ou melodrama, o filme consegue entrar-nos debaixo da pele, e convence-nos do drama que se desenrola diante de nós. Há alguns traços de fantasia, onde o filme quase vai para o burlesco, mas estes momentos só conseguem levar os eventos e as tragédias mais para a frente. O filme todo parece um documentário, em silêncio, vívido, com um olhar errante e uma intimidade carinhosa para os seus personagens. O assunto principal pode ser as dificuldades destes professores itinerantes, numa busca para encontrar alunos para ensinar, mas rapidamente se torna evidente que o filme se agarra a metas muito mais imediatas: a da situação dos refugiados e outras pessoas que tentam sobreviver perto da fronteira Irão-Iraque. Os actores dão umas interpretações convincentes, ainda que, obviamente, têm pouca experiência e poucas hipóteses de mostrar alguma capacidade de interpretar. O diálogo é simples e real, mas a constante repetição de frases não é uma grande vantagem. No final, "O Quadro Negro" consegue trazer um dos aspectos mais importantes do cinema, o de tornar real e imediato a vida, os costumes, e as condições de pessoas de uma sociedade completamente diferente da nossa.
Ganhou o prémio do Juri no festival de Cannes. Samira tinha apenas 19 anos quando fez este filme. 

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