terça-feira, 17 de setembro de 2013
Bashu, the Little Stranger (Bashu, Gharibeye Koochak) 1990
Uma história incrivelmente simples que lida com a emigração forçada de uma criança no Irão, fugindo do caos da guerra Irão-Iraque, e é uma das melhores descrições da forma como uma pequena criança pode tornar-se parte de uma nova comunidade. O personagem principal é uma criança chamada Bashu que é forçada a fugir quando os pais são mortos na guerra Irão-Iraque, na região do Golfo Pérsico do Irão, ele esconde-se num camião que o leva para o norte do Irão e foge quando ouve o que pensa ser o som de bombardeiros. Correndo e sendo perseguido por um cão, refugia-se num celeiro onde é descoberto por uma jovem mãe - Naii -que o recolhe, alimenta-o e lhe dá um lugar para ficar. O resto do filme foca-se tanto em Naii como em Bashu, e na relação entre ambos.
Os outros personagens - os filhos de Naii ou os moradores locais (jovens e adultos) são interessantes para nós apenas pelo impacto, sobre o que realmente é tanto uma história de recuperação da guerra como uma história de amor lírico. Uma das coisas mais surpreendentes sobre este filme é que apesar do foco apertado e a sua relativa falta de diálogo, durante cerca de metade do filme os protagonistas não se conseguem entender ou falar um com o outro, a qualidade é tão soberba que percebemos como a comunicação num mundo sem palavras funciona e, além disso, ficamos a conhecer os parâmetros com que se desenvolve a relação entre Bashu e Naii.
A aldeia do norte do Irão em que Bashu se encontra, e em que Naii vive é uma pequena comunidade camponesa. Os moradores estão atordoados que Bashu saiba ler e escrever, e são surpreendidos que ele pode fazer aritmética. Os moradores exibem uma espécie de esperteza e sabedoria popular, e quando Bashu, que tem a pele escura aparece, recomendam que ele a lave, para que a poeira desapareça da sua pele. Naii fica surpresa quando depois de o lavar ele fica da mesma cor. Este racismo informal não é tanto o racismo como o entendemos, mas o medo do desconhecido no meio deles. Bashu mostra o seu valor, exibindo níveis altos de astúcia e por ser capaz de encontrar o caminho de casa depois de ficar perdido, sem saber onde.
Perante este tipo de mundo, o espectador moderno definitivamente está numa paisagem diferente. O que vemos é um mundo em que a comunicação é visual, tanto quanto é aural, onde a linguagem se aproxima do equivalente às chamadas animalescas, gritos e gemidos, em vez de estar perto de nossa linguística e lógica da estrutura moderna. O realizador, Bahram Beizai não tem medo de usar a própria paisagem, mostrando-a em toda a sua majestade, toda a sua esterilidade, e brilho.
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