quinta-feira, 18 de julho de 2013

O Poliziotteschi

Antes de começar a explicar o que é o Poliziotteschi, vou ter que fazer uma pequena introdução do que era o cinema italiano dos anos 50 ao final dos anos 70. 

Nos anos 50 vivia-se uma grande repressão na cultura americana, causada pela Segunda Guerra Mundial. No cinema, os grandes estúdios viram-se obrigados a reduzir as despesas, e foi aí que descobriam um potencial filão em Itália. A Itália tinha um grande estúdio que podia servir como base, a famosa Cinecittà, por outro lado a mão de obra, incluindo os figurantes, era bem mais barata, pelo que aqui poupavam alguns milhões, sobretudo nas grandes produções. Algumas das maiores produções americanas da altura eram assim filmadas em Itália: Helen of Troy (1956), Esther and the King (1960), Ben Hur (1959), Cleopatra (1963), The Nuns Story, entre outros.
A partir de certa altura, os produtores italianos viram-se obrigados a combater esta hegemonia italiana. O próprio estado criou medidas que incentivavam as produções italianas, que acabavam por encorajar os americanos a investirem nos filmes italianos, e posteriormente a distribuírem no seu país de origem.
Foi aqui que foi inventado o "cinema de género", que não era mais do que o cinema mais "popular", o que arrastava as multidões para as salas de cinema. Pode dizer-se que o "cinema de género" atravessou várias fases, ou se preferirem, géneros. Não era mais do que o tipo de filme que estava na moda. O "Cinema de Género", tal como o próprio nome indica, era formado por vários géneros, muito influenciados pelo cinema americano. Cada um destes movimentos teve o seu período na história do cinema local, e, por regra geral, eram grandes sucessos nos anos em que reinavam.
Tivemos o Peplum (baseado nos filmes históricos), a Commedia All'italiana (nas comédias americanas), o Spaghetti (nos westerns), o Giallo (nos thrillers americanos), o Macaroni Combat (nos filmes da Segunda Guerra Mundial) o terror gótico,  os filmes políticos, os filmes do Apocalypse, entre tantos géneros, que por sua vez ainda se iriam cruzar em mais subgéneros, como: o soft porn/sex comedies, Nunsploitation, Nazi/SS Films, Decameron Films, Cannibal films, etc...
Cada um destes pequenos movimentos dentro do cinema italiano davam um belo ciclo aqui para este blog, e o ciclo desta semana refere-se a um destes géneros: o Poliziotteschi.

O Poliziotteschi

Mas afinal de contas, o que é o Poliziotteschi? Eram os filmes sobre o mundo do crime, de acção, que se tornaram populares desde o final dos anos 60, até aos anos 80.
A palavra "poliziotteschi" derivava de "polizia", e o "eschi", significava "esco" na linguagem inglesa. Também eram referenciados como Italo-Crime ou Euro-Crime. A palavra "Poliziottesco", em particular, representava especificamente a década de 1970. Os filmes deste período destacavam-se pela violênciaperseguições de carro/moto, assaltos, tiroteios. As tramas e as histórias deste subgénero geralmente envolviam policias corruptos e guerras entre mafiosos, bem como a corrupção política dentro das grandes cidades italianas como Nápoles, Milão, Turim e Roma.
Durante os anos 1960, o cinema italiano era bem visível devido à popularidade do seu novo western spaghetti. No entanto, quando chegou o início da década de 70, os spaghettis estavam a começar a ficar repetitivos e derivados. Os italianos, que eram conhecidos por não descansar sobre os louros por muito tempo, começaram a movimentar-se para outro género "pulp", e viram no Poliziotteschi a nova fonte de rendimento, levando os mais importantes realizadores e actores do spaghetti a mudarem para este novo género, como era o caso de Sérgio Sollima, Enzo G. Castellari, Duccio Tessari, Fabio Testi, Franco Nero, entre muitos outros.
Uma das principais diferenças entre os policiais americanos, e os policiais italianos, foi o aspecto de mostrar a máfia como o que realmente era. Cheia de corrupção, traição e desconfiança. Embora os filmes de Hollywood, como "O Padrinho" mostrassem a máfia como sendo principalmente honrada e bastante elegante, os realizadores italianos, como Fernando DiLeo, Stelvio Massi, Enzo G. Castellari, Antonio Margheriti entre outros, mostravam as suas opiniões pessoais sobre a forma como a polícia e o governo, bem como os líderes da máfia realmente operavam no seu país. Na década de 1970, os verdadeiros clãs mafiosos italianos foram espalhando o terror pelas cidades fora. Atentados e tentativas de assassinio eram uma coisa comum durante este tempo. É por isso que os mafiosos foram mostrados pelo o que eles realmente foram: brutais, traiçoeiros, escumalha, que disseram acreditar na lealdade e na honra, mas foram quase sempre cedendo aos desejos  dos que mostravam exactamente o oposto. A polícia também não era figura intocável ​​e foi regularmente retratada como trapalhona, idiota, com costumes corrompidos que tinham tendência a ser tão violenta como os criminosos que perseguiam.

Já andava a planear este ciclo há bastante tempo, mas estes filmes são muito dificeis de se encontrar na internet, pelo que só agora me foi possivel colocá-lo online. Mesmo assim será formado por apenas 10 filmes, alguns com legendas em inglês, outros dobrados, mas penso que irão gostar da selecção que tenho para vós. Arrancamos no sábado. Até já.

 

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