quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
O Círculo Vermelho (Le Cercle Rouge) 1970
Le Cercle Rouge era o penúltimo dos 13 filmes de Jean-Pierre Melville. Sempre um artista ferozmente independente, que trabalhava como seu próprio produtor, em grande parte das vezes fora do sistema francês (ele era um de um punhado de realizadores franceses que tinha o seu próprio estúdio), Melville criou um conjunto significativo de filmes ao longo de pouco mais de duas décadas, e sempre será lembrado como uma das influências fundadoras da Nouvelle Vague e o padrinho do cinema de crime europeu.
Os policiais feitos por si, estão profundamente flexionados com obsessões americanas de cinema, e, por sua vez, estes filmes tiveram um efeito profundo numa nova geração de cineastas de todo o mundo, de Quentin Tarantino a John Woo.
Le Cercle Rouge é, na sua essência, um filme de assalto, embora seja muito mais sobre como as relações entre os criminosos e aqueles que os persegue, do que é sobre o próprio crime. Alain Delon, que teve um de seus melhores papéis como um assassino ultra-cool no filme de Melville, Le Samouraï (1967), interpreta Corey, um ladrão que é libertado da prisão e imediatamente estabelece o plano do roubo a uma loja de jóias parisiense altamente guardada. O fatalismo é um componente crucial em muitos filmes de Melville, e logo se estabelece este tema através do regresso de Corey à vida do crime. Este fatalismo é também notado quando Corey une forças com Vogel (Gian Maria Volonté), um fugitivo que se esconde no porta-malas do carro de Corey. Se ele tivesse escolhido qualquer outro carro, as coisas poderiam ter sido muito diferentes. Para completar o grupo, temos Jansen (Yves Montand), um ex-investigador da polícia que não quer fazer o assalto por dinheiro, mas pela a satisfação do trabalho em si.
Claro que, como este trio improvável planeia um assalto complicado, cada um está a ser perseguido por alguém ou alguma coisa, o passado nunca está morto, e corre sempre atrás deles. Corey está em apuros com a máfia, que quer recuperar o dinheiro que ele roubou. Vogel pelo intrépido detective Mattei (André Bourvil), um homem discreto, determinado, e que é sem dúvida o personagem mais honrado do filme. Mesmo que Melville nos persuade a identificar-nos com os criminosos e a sua situação, complica as coisas, fazendo um personagem simpático e resistente, Mattei, em vez de um detective desviado e corrupto como tantos outros da polícia, em filmes deste tipo. Jansen está a ser perseguido por algo diferente: os seus próprios demónios pessoais do fracasso e da desilusão. Quando o conhecemos, está tão viciado em álcool que alucina que vê animais e répteis a rastejar pela sua cama, e o assalto torna-se uma forma de redenção para si, o que é irónico, já que ele era um polícia.
Ao contrário de muitos filmes de hoje rm dia, Melville leva o seu tempo com a alcançar o ritmo em Le Cercle Rouge, permitindo a que as personalidades dos personagens sejam desenvolvidas. Mantem-nos a uma certa distância dos seus personagens, muitas vezes enfatizado com ângulos de longa distância ou um enquadramento deliberado que os coloca em lados opostos da tela, mas eles são tão convincentes na sua autoridade silenciosa que somos atraídos para eles, queremos saber mais sobre eles, assim como eles se recusam a revelar-se. Estes são homens de ação, não de palavras, e muito do que se passa entre eles é o silêncio que brota com significado. Simples acenos, olhares e linguagem corporal transmitem muito do que precisamos saber. A desenvoltura, dedicação e a honra que existe entre si é admirável, apesar do status como criminosos, e quando a corda aperta, finalmente, no fim e que nós sabemos o que irá acontecer, e sentimos uma ponta de tristeza com a perda.
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