sábado, 29 de dezembro de 2012
M (M) 1951
Um assassino de crianças anda à solto nas ruas de Los Angeles, e a polícia parece incapaz de apanhá-lo. Quando tentam compensar essa falha, fazendo incursões constantes no submundo do crime, um dos grandes chefes do crime decide apanhar ele próprio o assassino.
"M", de Fritz Lang, é um clássico intemporal, e é difícil imaginar um remake de Hollywood, mas foi isso mesmo que Joseph Losey fez, 20 anos depois do filme original, sobre a caçada a um assassino de crianças. Losey refilma M, sob a égide do produtor do filme original, Seymour Nebenzal, e é extremamente fiel à sua fonte, seguindo mais ou menos o mesmo argumento, e por vezes, recriando mesmo cena a cena em algumas sequências. Seria fácil de perceber que este filme seria uma versão inferior ao clássico original: o remake foi um fracasso no lançamento e só com o tempo conseguisse a reputação que tem agora. Mas, embora seja inquestionável que não corresponde ao poder do filme de Lang, ainda é um noir muito convincente no seu próprio direito, transpondo a parábola social ricamente ambígua para a Hollywood dos anos 50, no auge da histeria anti-comunista, que é claramente um tema em destaque aqui.
Para Lang, o filme era um tratado anti-pena de morte, um aviso sombrio e oportuno sobre os perigos do medo generalizado e a paranóia, e, claro, um apelo para os adultos cuidarem dos filhos. Para Losey, é um thriller psicossexual e uma parábola para o mccarthismo anti-comunista que depressa conduziu o realizador para fora dos Estados Unidos, durante o resto da sua carreira.
Losey também muda o significado do filme, fazendo o motivo para os crimes das crianças ser implicitamente sexual, o filme é carregado de símbolos sexuais que o original de Lang que não tinha. Os créditos iniciais mostram o assassino (David Wayne), visto apenas por trás, aproximando-se das jovens, atraindo-as com um brinquedo que ele sugestivamente brinca com as mãos, o enquadramento muitas vezes esconde o brinquedo completamente, de modo que não está claro o que ele está a fazer. Losey, esquiva-se dos censores, sugerindo um componente transgressor sexual para os crimes, um motivo assustador que distancia mais o assassino de crianças de Wayne do retrato mais famoso de Peter Lorre.
Na verdade, Wayne interpreta o assassino Martin Harrow com uma grande intensidade e uma fixação na mãe que prefigura o Norman Bates de Anthony Perkins em "Psico", de Hitchcock, mais do que para a personagem de Lorre. O mais arrepiante de tudo é a cena do assassino sentado no escuro, com o rosto envolto em sombras, segurando firmemente o cabo pendente da lâmpada pendurada acima dele, envolvendo-o em torno do punho, respirando pesadamente e puxando a mão com o cabo.
Deste modo, Losey cria o seu próprio material, mesmo quando, em grande parte do filme, adere ao molde da película original. Não pode igualar a beleza formal esmagadora do filme de Lang, mas tem a sua minimalista própria, de estética de baixo orçamento que dá a esta obra um realismo muito diferente do expressionismo sombrio de Lang.
Não há legendas em português para o filme, por isso podem encontrar em espanhol, em anexo.
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★★★
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