sexta-feira, 22 de junho de 2018

Os Quatro Cabeleiras do Após-Calypso (A Hard Day´s Night) 1964

"Famosamente descrito por uma Village Voice sobre-excitada como o "Citizen Kane dos filmes Jukebox" , a comédia de Richard Lester de 1964, com os Beatles e a sua música como estrelas, pode não ser precisamente isso (embora seja mais divertida), mas mudou para sempre a forma dos filmes de música pop. Com um guião da autoria do escritor de Liverpool Alan Owen, repleto de um humor vivíssimo e de uma ambiência de realismo social, e traços das influências britânicas surrealistas de Lester (ele já trabalhara com os ídolos cómicos dos anos 50 dos Beatles, os Goons), "Os Quatro Cabeleiras do Após-Calypso" acompanha um dia na vida de um grupo teen de sucesso, e transforma-o em algo de emocionante. A câmara segue os Beatles - que representam uma reconhecível versão deles próprios - durante um dia típico: são perseguidos pelos fãs, driblam perguntas idiotas da imprensa e, finalmente, actuam a sério. Lester deu aos quatro membros da banda o suficiente para se ocuparem, em especial Ringo Starr, cuja cena tocante num canal de barcos com um rapazito é acentuada pelo facto do cantor estar com uma ressaca monumental.
Lennon, McCartney, Harrison e Starr surgem como rapazes estimáveis, ligeiramente rebeldes e inteligentes, que, na tradição dos dramas realistas do norte de Inglaterra, são terra-a-terra, despretensiosos e com  inclinação para ver através da falsidade dos outros ("combati na guerra por tipos como você" diz um velho de cartola a Starr, que replica "aposto que lamenta ter vencido"). A constante rejeição de quase tudo - produtores de TV, publicitários, autoridade em geral - podia ter envelhecido mal senão fosse contrastada com a força e glamour da banda. A combinação funcionou exactamente como se pretendia: uma explosão de propaganda não só para os Beatles, mas também para a então muito valorizada geração "mais jovem". Embora "Os Quatro Cabeleiras do Após-Calypso" não seja directamente responsável pela invenção da contracultura, nem pela expulsão da velha  Hollywood ou o fim da guerra do Vietname, foi visto, absorvido e reverenciado como um viveiro de futuro talento artistíco, particularmente nos Estados Unidos, onde uma geração mais jovem achou o filme libertador. E as canções são o máximo."
Texto de K.K.

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