sexta-feira, 4 de maio de 2018

Flores Amargas (Flores Amargas) 1988

Um dia de festa na comunidade timorense encalhada no Vale do Jamor. Um guerrilheiro que veio de Timor e a sua história. Um olhar sobre um povo abandonado.
Em Maio de 1989, pouco depois de "Flores Amargas" ter sido estreado na RTP, a sua realizadora, Margarida Gil, dava uma entrevista ao Diário de Lisboa. E, à pergunta "quais foram as reações ao filme?", respondia: "Permitiram-me perceber que o desleixo em Portugal é ainda maior do que eu pensava. Ainda supus que o filme levasse as pessoas a falarem de Timor, mas nem isso". Todos estes anos volvidos, como que por ironia, não é Flores Amargas que faz falar de Timor, mas o facto de o futuro de Timor ser o que sabemos que torna mais aguda a consideração que o filme merece.
Originalmente pensado com um dos episódios da colecção "Fados" - e como tal mostrado em 1989 - Flores Amargas é uma ficção de cariz paradocumental. Filmada junto dos refugiados timorenses atirados pela descolonização para o Vale do Jamor, tornando-os como actores de uma trama-pretexto, o essencial do filme está ao nível do testemunho e talvez mereça mais respeito como gesto ético e solidário que como obra estética. É a descoberta dos rostos, dos olhares, da perplexidade das coisas a sobrepor-se a uma hipótese de ficção tecida com fios tão frágeis que, verdadeiramente, não chega a existir. 
Anote-se que foi para aqui que João Gil compôs o tema musical dedicado a Timor que, depois, teve a função de se tornar um quase-hino.
Texto de Jorge Leitão Ramos

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