domingo, 7 de janeiro de 2018

A Zona (A Zona) 2008

Todas as personagens de "A Zona" têm que lidar com a perda de um ente querido. Um homem observa o corpo do pai deitado numa cama de hospital, que apenas se mexe graças à maquina de respiração artificial que o mantém vivo. Numa ambulância, uma mulher grávida, tomada pelo pânico, agarra-se ao marido, enquanto os médicos tentam ressuscitá-lo. Num apartamento, o homem tenta familiarizar-se com o espaço desabitado onde o pai costumava viver. O cão ainda lá está, mas a sua presença não atenua de forma alguma o vazio que dali emana. No campo, vive um casal à espera de bébé. Uma noite, o marido sai e não regressa.
Estes homens e mulheres parecem anestesiados pela sua dor. São sobreviventes que caminham hesitantes em espaços quase sem vida, em busca de um lugar para descansar.
""A Zona" é um filme que se concentra em gestos banais das personagens em circunstâncias extraordinárias. Por isso mesmo, é normal a câmara concentrar-se  nos rostos, tanto no de Rui (em mais uma actuação muito low profile, quase sorumbática, do actor António Pedroso), como no de Leonor. Todas as personagens parecem viver da solidão, sem espaço social válido (aliás, os espaços sociais - como o hospital e a festa - são locais onde as personagens estão fora do seu contexto natural).
Também a representação da cidade é interessante em A Zona: há uma opção pelo uso de locais anódinos, comuns, como as autoestradas ou os blocos habitacionais. Movemo‑nos, portanto, numa cidade periférica, e daí, também, a presença intensiva da floresta como um espaço de transição. Para além disso, o hospital surge como o espaço central, possivelmente a zona de transição entre a vida e a morte: “A zona do título português refere‑se ao espaço emocional do hospital, onde muita da ação tem lugar, mas pode igualmente referir‑se a um espaço lynchiano e liminar entre a vida e a morte, onde a narrativa familiar e a lógica temporal se encontram suspensas” (Corless, 2008). o hospital é mostrado como espaço límpido e higiénico, sem marcas: por um lado, representando o fim, mas também supondo o início" - Daniel Ribas.

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