quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Os Invasores (49th Parallel) 1941

Os Invasores é a primeira incursão de Michael Powell e Emeric Pressburger na segunda guerra mundial que então devastava o mundo. Tal como o posterior One of Our Aircraft Is Missing (1942), enquadra-se no esforço de propaganda do governo inglês no combate ao nazismo, e por isso, se pode, com propriedade, referir que são encomendas oficiais. Como sucede nos primeiros filmes do duo, Powell é o realizador e Pressburger o argumentista.
"Os Invasores" tinha um objectivo político claro: pressionar a opinião pública dos EUA e do seu governo a abandonarem a política de neutralidade então vigente, aliando-se aos britânicos. Daí o título de 49th Parallel (nos EUA recebeu o nome de The Invaders) que marca a fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá. O argumento é bastante sofisticado para um filme de guerra. Após uma batalha entre um submarino alemão e aviões de guerra aliados, um grupo de soldados alemães que tinha sido destinado a uma missão, fica isolado em território inimigo e sem possibilidades de retorno ao submarino que havia sido destruído. O filme torna-se quase uma espécie de road movie invulgar, uma vez que os soldados alemães têm como objectivo atravessar de forma incógnita todo o Canadá para chegarem a Vancouver onde poderão embarcar rumo ao Japão com informações preciosas sobre segredos militares do Canadá. Curiosamente, acabam por ser os alemães os principais protagonistas do filme, em particular, o tenente Ernst Hirth (representado pelo actor Eric Portman). As contradições entre o grupo de soldados alemães são evidentes: alguns são militares como outros quaisquer, fazendo uma guerra porque para ela são enviados contra a sua própria vontade e sem se sentirem parte de qualquer espírito salvador do mundo a partir do conceito de supremacia racial ariana; o tenente Hirth, pelo contrário, representa o ideal nazi com todo o arsenal ideológico que lhe é característico. Esta distinção subtil que se corporiza na execução do soldado alemão que é mais vulnerável à complacência com o «inimigo», é, na minha opinião, o aspecto mais relevante de todo o filme. O nazismo não representa a totalidade de um povo, mas sim apenas um grupo ideologicamente mais radicalizado e fanático que veicula uma mensagem de ódio e de destruição. Esta diferença é muito eficaz do ponto de vista propagandístico (sobretudo se se tiver em conta os objectivos acima referidos) em particular quando comparada com muitos filmes sobre esta guerra em que os alemães são apresentados sempre como desprovidos de sentimentos e cegos seguidores dos seus dirigentes. As cenas de guerra, propriamente ditas, são escassas e confinam-se aos momentos iniciais do filme. Todo o resto é a fuga e a perseguição que vai fazendo cair, um a um, os soldados alemães, à medida que estes procuram desesperadamente caminhar para Oeste. Algumas cenas como a da festa do dia nacional dos índios são verdadeiramente antológicas e o final, a um tempo irónico e justiceiro, revela a extraordinária capacidade de Pressburger na escrita de argumentos. 
Os Invasores deve ser visto como uma primeira parte de um díptico que tem em One of Our Aircraft Is Missing, a segunda. É um filme que retrata a guerra nas suas vertentes mais políticas e humanas em detrimento dos aspectos militares. Nessa medida, os dois filmes fazem parte daquele acervo de obras do género que são imprescindíveis. 
* Texto de Jorge Saraiva

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