domingo, 23 de julho de 2017

Akira (Akira) 1988

"A obra-prima animada de Katsuhiro Ôtomo é o pináculo da ficção científica apocalíptica japonesa. O argumento é enganadoramente simples: no futuro caótico de neo-Tóquio (assim chamado por substituir o Tóquio original, destruído por um cataclismo misterioso no fim do século XX), Kaneda, um membro adolescente de um gang de motards, descobre que o seu antigo melhor amigo Tetsuo se transformou num telepata homicida com a vontade e poder de matar centenas de pessoas. Relutantemente Kaneda junta-se a um grupo de terroristas anti-governamentais à procura do misterioso Akira, um telepata ainda mais poderoso que Tetsuo.
O génio de Ôtomo consiste em relacionar o apocalipse com a raiva dos adolescentes desiludidos. No fim de contas, para um adolescente, cada emoção é apocalíptica. Portanto imagine-se que um adolescente tem poderes extra-sensoriais que aumentam exponencialmente as suas emoções, e imagine-se que esse adolescente era um dos mais revoltados e zangados de todos. Pense-se nisso e depois nas maiores cenas de devastação imagináveis, e eis "Akira". A energia de "Akira" como filme de acção é mais poderosa que a adrenalina de uma corrida a 250 km por hora. A obra fornece uma oportunidade para uma exploração séria das ideias e metáforas que assolam a psique japonesa, nomeadamente o colapso social, o mau-estar geral, e a perpétua ambivalência em relação ao poder militar. Não é uma coincidência que as principais forças da oposição na história sejam motards adolescentes, marginais aspirantes a revolucionários, e as forças armadas.
Acima de tudo, a história de Akira é alimentada pelo medo da sociedade em relação à sua juventude - selvagem, incontrolável, caótica. Tetsuo é um adolescente chateado até ao limite, mas com suficiente poder para provocar dúzias de mortes, e há uma razão para tanto o governo como os militares temerem o enigmático Akira, para sempre preso numa perpétua meninice. Estamos perante uma adolescência que causa destruição numa escala épica - trazendo de volta memórias das bombas lançadas sobre o Japão na II Guerra Mundial e os persistentes medos colectivos de aniquilação. A fascinação da cultura pop japonesa com o Apocalipse vai além da mera admiração, tornando-se frequentemente uma exaltação, o que não será muito saudável, mas dá azo, sem dúvida alguma, a excelentes histórias." 
* Texto de Adisakdi Tantimehd, "1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer".

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