sábado, 24 de junho de 2017

Suru - O Rebanho (Sürü) 1979

Por causa de um conflicto local, uma família de camponeses do leste da Turquia decide vender o seu rebanho de ovelhas, uma mercadoria muito preciosa, na distante cidade de Ancara. Durante a longa viagem de comboio subornos devem ser pagos a oficiais mesquinhos, ovelhas são roubadas ou morrem nos vagões embaladas, e a esposa de um dos filhos da família fica gravemente doente...
"Sürü" é um retrato realista de uma Turquia em transição para o capitalismo. O filme problematiza a desintegração de uma tribo curda e a sua estrutura patriarcal, com mudanças na estrutura económica do país. Está dividido, principalmente, em três partes, em todas as quais se destacam a natureza misteriosa deste povo: no acampamento, na viagem de comboio para Ancara, e, já na cidade. No acampamento, um abrigo temporário, a tribo continua o seu estilo de vida ao ar livre, com a vida nómada a ser documentada quase etnograficamente. A tranquilidade da atmosfera tem uma qualidade estranha. O conflito é confinado a espaços interiores claustrofóbicos, dentro das tendas ou perto delas, onde os mais fracos são humilhados. 
A mensagem política do filme está carregada de crítica social. O atraso e a ignorância de um estrato social ou étnico revertem-se pelo resto da sociedade. As mulheres são uma metáfora para os oprimidos. Colocadas em espaços liminares, as mulheres têm uma dupla vantagem par os homens, embora a opressão feudal destrua ambos. Quando a perda de identidade não é consciente (como no caso das minorias étnicas na Turquia), o poder é mais destrutivo. Pessoas afectadas por uma melancolia mais profunda perdem a voz. O silêncio de uma das personagens, Berivan, é uma metáfora para os povos oprimidos sem voz, os pobres, as mulheres, mas, principalmente os curdos, silenciados fisicamente e metaforicamente, não são capazes de falar o seu próprio idioma, embora esta mensagem seja muito subtil no filme, para conseguir contornar a censura estatal.
Escrito por Yılmaz Güney, enquanto estava na prisão, e realizado por  Zeki Ökten, esta trágica história da desintegração de uma família tribal (e os seus costumes e tradições) recebeu uma enorme aclamação internacional, incluindo o Leopardo de Ouro no festival de Locarno, e dois prémios importantes no festival de Berlim. A administração do festival Antalya Golden Orange Film recusou-se a aceitar "Sürü" na competição, porque a cidadania turca de Melike Demirağ tinha sido revogada pelo seu papel de esposa de Şivan, interpretado por Tarık Akan, que já estava na lista negra. Mas depois acabaria por premiar o filme com vários prémios.

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