Na década de cinquenta o western sofreu uma grande revitalização na forma como era apresentado ao público. Tudo era aproveitado para trazer novas visões, como uma nova interpretação do film noir, em "The Furies" (1950), ou o thriller psicológico em "High Noon" (1952). "Johnny Guitar" (1954), de Nicholas Ray, era uma experiência arrojada a cores, inversão de papéis, cenários estilizados, e emoções operáticas, que resultaram numa obra prima poucas vezes repetida. Funcionando, de certa forma, como um ataque anti-McCarthy sobre a psicologia das massas, o filme conta-nos a história de Vienna (Joan Crawford), a dona de um saloon que está pronta para receber de braços abertos a chegada do caminho de ferro, à sua pequena cidade fronteiriça. Um grupo de membros da comunidade, liderados pela enraivecida Emma Small (Mercedes McCambridge), opõe-se à idéia, e pretende expulsar Vienna da cidade. Para sua protecção, Vienna contrata um ex-pistoleiro, Johnny Guitar (Sterling Hayden), que ela não vê desde que terminaram a sua tumultuosa relação, cinco anos atrás. Quando Johnny chega, as emoções são fortes, agravadas pelo relacionamento de Vienna com Dancin' Kid (Scott Brady), um fora da lei cujas culpas são parcialmente atribuídas à dona do saloon.
Produzido pelo Republic Studios, "Johnny Guitar" foi o primeiro projecto de Ray depois de deixar a RKO, onde estava já com um contrato de sete anos. O filme fazia parte de um pacote que incluía Roy Chanslor, um ex-jornalista que se tinha tornado argumentista, e que tinha escrito esta história de propósito para Joan Crawford. Na altura, o Republic era considerado o mais prestigiado dos estúdios pequenos, e o contrato com Ray dava-lhe uma grande quantidade de liberdade criativa, apesar do orçamento do filme ser bastante reduzido. Uma das primeiras coisas que Ray fez, foi contratar Philip Yordan para reescrever completamente o argumento.
Muitos dos actores secundários eram veteranos de outros westerns, como Ward Bond, John Carradine, Royal Dano, Ernest Borgnine e Sheb Wooley, mas Sterling Hayden era uma escolha invulgar para o papel central do filme, porque ele nem sabia andar a cavalo, tocar guitarra, ou sequer disparar uma arma. Isso também não interessava, já que o confronto final seria entre as duas mulheres, Vienna e Emma.
Tal como as suas personagens na tela, Joan Crawford e Mercedes McCambridge foram também ferozes rivais na rodagem do filme. Crawford, cuja inveja profissional das actrizes mais novas era bem conhecida, iniciou a contenda quando observou o realizador e o resto do cast a aplaudir uma cena que McCambridge tinha acabado de filmar. Daí para a frente a relação entre as duas seria muito má. Crawford, como estrela principal do filme, exigiu grandes mudanças no argumento, favorecendo-a, é claro. A maior revisão foi um problema em relação ao sexo. Em vez do foco central ser nas personagens de Johnny Guitar e o Dancin' Kid, passaria a ser em relação a Vienna e Emma, que passariam a ser personagens mais tradicionalmente masculinas. Verdade seja dita, se estas mudanças não tivessem tido lugar, o filme não seria tão valorizado como é hoje.
Nicholas Ray estava muito infeliz durante a rodagem do filme, e as criticas medianas recebidas durante a estreia também não ajudaram. No entanto, "Johnny Guitar" foi muito admirado na Europa. Adorado por Francois Truffaut, que o proclamou "the beauty and the beast of westerns, e com o tempo tornou-se num filme de culto, e numa das obras mais duradouras de Ray.
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Há quem diga que a guitarra de Johnny foi a inspiração para Sergio Leone dar uma harmónica a Charles Bronson para o filme "Aconteceu no Oeste".
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