quarta-feira, 22 de junho de 2016

O Mistério de Picasso (Le mystère Picasso) 1956

"Ao contrário das habituais cinebiografias ficcionais (uma das mais famosas, Sede de Viver, sobre Van Gogh, tendo sido produzida no mesmo ano) ou dos filmes documentais, sobretudo curtas-metragens que se detém sobre as obras de arte acabadas de grandes artistas, o filme de Clouzot se propõe a mostrar o artista em atividade. Nesse sentido, compõe as sequências iniciais do filme com gravuras realizadas em tempo real ou próximo do real e, posteriormente, através do recurso da montagem procura ilustrar o que Picasso descrevera como sua técnica de justaposição de cores e desenhos. O sentido de utilizar uma colagem das alterações efetivadas no quadro se faz a partir da própria reclamação de Picasso de que as obras desenhadas em tempo real são bastante superficiais. Pode-se perceber nitidamente a diferença quando contrapostas com a primeira obra que deixa para lado a preocupação com a filmagem em tempo real. Ao final, o realizador expressa sua preocupação de que o espectador poderá acreditar que foi produto de 10 minutos e o próprio Picasso afirma que foi de 5 horas de trabalho. Embora as obras apresentadas a partir dessa opção sejam via de regra mais bem acabadas, Picasso demonstra desgosto com os rumos que a sobreposição de gravuras e cores que efetuou em um dos quadros. O aspecto de improviso e espontaneidade é visivelmente enganoso, o que deixa a indagação do quanto o “erro” provocado no quadro que desgostou o pintor não serviria apenas para exemplificar o seu próprio processo de produção. Trata-se de uma produção indicada sobretudo aos aficcionados incondicionais do mundo das artes, no sentido de que Clouzot não introduz seu documentário com nada que diga respeito especificamente a Picasso ou sua arte e tampouco o entrevista. No máximo, existe o evidentemente ensaiado contato de Clouzot com seu “ator” no ateliê do mesmo, procurando controlar o tempo de realização da pintura com o tempo de filme restante no chassi da câmera, etc. Sua estrutura é basicamente composta das imagens do pintor e da trilha sonora triunfante de Auric, um dos mais tradicionais do cinema francês de então. O filme foi tema de um artigo de André Bazin." Cid Vasconcelos, daqui.
Em 1956 ganhou o prémio do Juri no festival de Cannes, e voltaria a ser exibido, fora de competição, neste ano de 1982.

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