segunda-feira, 7 de março de 2016

O Deserto Vermelho (Il Deserto Rosso) 1964

Chuva, neblina, frio e poluição assolam a cidade industrial de Ravenna, em Itália. Ugo, o gerente de uma fábrica local, é casado com Giuliana (Mónica Vitti), uma dona de casa que sofre de problemas psicológicos. Um dia, ela conhece o engenheiro Zeller (Richard Harris), o que pode mudar sua vida.
Tal como os primeiros filmes de Antonioni, "O Deserto Vermelho" é um enigma. Metódico na sua sinuosa e lenta velocidade, e na falta de interesse narrativo, apesar das personagens principais estarem muito bem caracterizadas, e o triângulo amoroso central a obrigar-nos a concentrar como se estivéssemos a viver uma experiência puramente audiovisual (por esta razão Tarkovsky considerou este um dos piores filmes de Antonioni). Antonioni não só faz a sua primeira experiência a cores, mas também brinca com a banda sonora do filme, aplicando uma discordante e eletrónica música que leva a audiência ao limite na sequência dos créditos iniciais, mantendo um sentimento de desconforto e desarmonia durante todo o filme.
Um dos pontos fortes de Antonioni como realizador sempre foi a sua capacidade de transmitir um poderoso sentido de localização, muitas vezes à custa de personagens que são literalmente ofuscadas pelos cenários, mesmo que não nos lembremos da história de "L’Avventura", é impossível esquecer a beleza da ilha rochosa onde os personagens se encontram. A respeito disto, "O Deserto Vermelho" pode ser das maiores obras primas do realizador, uma vez que torna palpável e visceral a ascensão da indústria petroquímica na Itália da década de 50, com as suas enormes torres de refrigeração e enormes edifícios de aço que abrigam centenas de trabalhadores anónimos que constituíram uma nova classe trabalhadora na Itália do pós-guerra.
Tal como todos os filmes de Antonioni, "O Deserto Vermelho" é uma experiência provocadora e desafiadora, que nos recompensa na nossa primeira visualização, para além da natureza visual poderosa e o casamento, não convencional, entre o som e a imagem.
Ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1964.

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