segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O Silêncio (Tystnaden) 1963

Enquanto viaja de comboio num país estrangeiro, uma jovem mulher chamada Ester adoece subitamente. Com ela viajam a irmã, Anna, e um jovem rapaz chamado Johan, que se vêm obrigados a parar num hotel. Enquanto Ester se vê presa numa cama, a irmã começa a explorar a cidade, na procura de saciar os seus apetites carnais, deixando Johan a vaguear pelo hotel. Quando Ester descobre o que a irmã anda a fazer fica devastada, já que ela tem sido a sua inteira vida...
"O Silêncio" é facilmente um dos filmes mais negros de Ingmar Bergman, mais perturbadores e mais ambíguos. Foi também um dos seus maiores sucessos comerciais, em parte graças às suas cenas de sexo explícito, muito ousadas para aquele tempo, mas inconsequentes para a nossa actualidade. O filme é considerado o terceiro numa trilogia que inclui "Through a Glass Darkly" e "Winter Light". A ligação entre estes três filmes é apenas vaga, no entanto eles são bastante similares. O primeiro mostra-nos um mundo onde Deus está revelado, o segundo um mundo onde Deus está escondido. "O Silêncio" mostra-nos um mundo sem Deus, um mundo onde os seres humanos parecem ter pedido a alma, e são conduzidos por desejos egoístas que os levam ao Inferno ou à extinção.
O próprio Bergman não estava satisfeito com a noção da trilogia. Talvez faça mais sentido colocar este filme ao lado do seu posterior, "Persona". Os dois filmes são muito semelhantes, ambos lidam com um relacionamento íntimo muito complexo entre duas personagens femininas muito semelhantes. Em "Persona" as duas personagens parecem convergir para uma única identidade, enquanto em "O Silencio" as duas parecem estar num processo de divergência. Nos dois filmes as duas mulheres são dois aspectos contrastantes de um mesmo indivíduo - o espírito e a terra, a alma e a carne. Tudo isto é enfatizado pela fotografia de alto contraste de  Sven Nykvist. Luz e sombra claramente delineadas com as personagens do filme, representando dois componentes essenciais do nosso universo - o bem e o mal.
O problema de comunicação está no centro de muitos filmes de Bergman, mas aqui é fundamental. Não só as duas personagens principais acham muito difícil comunicarem uma com a outra (este caso incestuoso tornou-se numa aversão mútua), mas as duas também parecem completamente isoladas do mundo ao seu redor. Estão num país estranho, cuja língua não percebem e cujo povo não conseguem comunicar. Estão sozinhas, no verdadeiro sentido da palavra. 
O único personagem que faz a ponte entre as duas mulheres, e também entre o mundo exterior, é o jovem Johan. Ele tem uma empatia especial para todos que encontra. Johan é sábio apesar da sua idade, e está ciente de que a angústia pode ser razão para não se conseguir comunicar. Sem comunicação não há entendimento, sem entendimento há medo, e o medo leva-nos para a guerra. Uma curiosidade, o actor que interpreta Johan, Jörgen Lindström, seria visto na sequência de abertura de "Persona". Uma indicação, talvez, de que Bergman pretendia fazer uma ligação entre os dois filmes. 

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