domingo, 28 de fevereiro de 2016

O Cerco (O Cerco) 1970

 Uma filha da alta burguesia de residência lisboeta, Marta, deixa o marido. Fartou-se. Sabe que há coisas que já não lhe interessam e tenta vida nova. É hospedeira de terra numa companhia de aviação e modelo de uma agência de publicidade. Tem problemas de dinheiro e recorre a Vítor, para melhorar as coisas. Mas tudo piora. Vítor – um contrabandista a quem a vida já tudo ensinou e que já não tem esperança – agrada-lhe, conforta-a, mas não lhe dá nada do que verdadeiramente precisa. Certo dia, ele aparece morto. Culpa sua? Um descuido? E Marta prossegue, sempre de certo modo sozinha, o seu caminho, em busca de qualquer coisa, numa terra que não é bem a sua.
Quando António da Cunha Telles mete mãos à obra está falido. As suas aventuras como produtor levaram-no a isso. Tem credores à perna e foi posto «de quarentena» pelos seus colegas do CPC, a cooperativa Centro Português de Cinema, que produz obras do Novo Cinema. Acossado, Cunha Telles enche-se de brios e faz um filme. Com meios reduzidos mas de imaginação bem desperta, descarta-se da aventura com a aventura.
O Cerco estará presente na Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes de 1970 e será o grande sucesso do Novo Cinema. É um dos filmes incontornáveis do Cinema Novo, talvez aquele que terá atingido mais visibilidade fora de Portugal. Um filme pleno de símbolos e simbolismos, feito dos pequenos elementos que emergem de uma aparente banalidade e descrevem a condição da personagem bem como a da sequência da narrativa. Delicadamente silencioso, dando o necessário tempo para respirar, O Cerco marca pela sua simplicidade.
Mas O Cerco é mais que um filme esteticamente apelativo, é também o confronto com uma sociedade cínica, oportunista, mesquinha, fechada, em que a mulher é vista e tratada como um objecto. Uma sociedade cansada e sem um futuro apetecível. Um filme introspectivo que coloca as peças em cima da mesa para que o espectador, das entrelinhas, possa extrair a sua mensagem.

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