segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O Assado de Satanás (Satansbraten) 1976

"O poeta Walter Kranz (Kurt Raab) sofre de um bloqueio criativo e já não tem relações sexuais com a sua mulher (Helena Vita). Em vez disso, envolve-se frequentemente em arriscadas relações sadomasoquistas com outras mulheres. Uma antiga admiradora (Margit Carstensen) está apaixonada pela sua poesia, mas não tanto por ele, pois descobre que é tão fraco como ela. A mulher de Kranz morre, enquanto uma mulher que ele julga ter matado afinal está viva. Assim, tudo pode recomeçar, incluindo os maus tratos ao seu irmão mais novo e fraco de espírito.
Durante a crise provocada por "Der Mull, die Stadt end der Tod", Fassbinder decidiu voltar a fazer uma película sobre um artista que passa por uma crise. Embora "Satansbraten" exiba características autobiográficas, o filme, no seu todo, não é autobiográfico, no sentido que "Cuidado com essa Puta Sagrada", que aborda concretamente a rodagem de um filme anterior, o é. No entanto, o genérico inicial de "Satansbraten" sugere um paralelo entre Fassbinder e a personagem principal, o escritor Walter Kranz. Quando Krantz toca à campainha da sua antiga amante (interpretada pela ex-mulher de Fassbinder, Ingrid Caven) e ela lhe abre a porta, vemos a frase "Um filme de Rainer Werner Fassbinder" nas costas de Kranz. Ela suspira resignadamente: "Oh, és tu!" como se o comentário se referisse não apenas à personagem, mas também ao próprio Fassbinder.
Todas as sequências do filme revelam uma ambivalência similar. O ritmo acelerado, o estilo de representação forçado e frenético, as estranhas reações das personagens, não fornecem ao público nada a que se agarrar. Será que o filme descreve pessoas que estão a passar por situações de vida ou de morte, sendo obrigadas a comportarem-se como radicais caricaturas por causa dessa pressão? Ou será que o filme retrata pessoas que estão constantemente a fingir, o que lhes confere liberdade para entrarem e saírem dos seus corpos e estados emocionais conforme lhes apetece para expandirem lucidamente as suas identidades? Será que o drama emerge, em última instância, da tensão entre sentimentos genuínos e um fingimento, que inicialmente traduz a tentativa de conviver com emoções dolorosas, mas do qual as personagens perdem gradualmente o controlo, acabando por ter tanta noção do que é verdadeiro ou falso com o público? Seja como for, não é fácil ver um filme destes. " Texto de Christian Braad Thomsen

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