quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Os Deuses da Peste (Götter der Pest) 1970

Franz Walsch, um ladrão de pouca importância, recém saído da prisão, procura velhos conhecidos. Encontra a namorada Johanna e visita a mãe que vive com o irmão, Marian. As mulheres sentem-se atraídas por Franz, embora ele seja um homem de poucas palavras e sem muita sensibilidade durante os encontros. Johanna fica com ciúmes, quando Franz aparece com a nova amante Margarethe, e os dois se juntam ao seu velho amigo Günther, conhecido como "Gorila". Planeiam roubar um supermercado, mas são informados que se o fizerem serão presos, poque a polícia já está avisada...
O filme do meio de uma vaga trilogia, que começara com "O Amor é Mais Frio do que a Morte", e terminaria com "O Soldado Americano" (1970), "Gods of the Plague" está para Fassbinder como "À Bout de Souffle" ou "Pierrot le Fou" estavam para Godard, um exercício em desconstrução cinéfila (principalmente aquela dedicada ao thriller de série B), que reflectia a esterilidade cultural na sociedade moderna. "Gods of the Plague" é uma sequela e um desenvolvimento a "O Amor é Mais Frio do que a Morte", tecnicamente mais ambicioso, e mais rico em conteúdo narrativo, sendo assim um dos mais importantes filmes de Fassbinder deste primeiro período. Em comum com muitos realizadores da Nouvelle Vague, Fassbinder tinha uma afinidade mórbida pelo film noir dos anos quarenta e cinquenta, e essa paixão reflectia-se na sua primeira década de filmes, principalmente nesta trilogia de gangsters.
Os temas que Fassbinder introduziu em O Amor é Mais Frio do que a Morte", particularmente a rejeição ao consumismo, e a tentativa de ver a sociedade alemã pelos arquetipos do film noir americano, são mais poderosamente exploradas aqui. Não é por acaso que, o assalto que forma o climax do filme, tem lugar, não num banco ou numa joalheria, mas sim num supermercado moderno. Se aceitarmos a teoria de Fassbinder, que o consumismo invadiu a noção da sociedade, seria lógico que os seus personagens acabariam a arriscar a vida por roubar umas embalagens de peixe, do que notas ou jóias.
Enquanto "O Amor é Mais Frio do que a Morte", e "O Soldado Americano" (1970) têm uma forte veia em humor negro, e um sentimentalismo que de certa forma parodia o film noir, "Gods of the Plague" é muito mais sério no tom, e muito mais incisivo no comentário social. Eleva os motivos dos filmes de gangsters dos anos 40, e explode-os para proporções quase minúsculas, não para expor o absurdo do género que está a imitar, mas para nos lembrar do absurdo da vida em geral.
"Gods of the Plague" contém referências a vários filmes, como "The Blue Angel" de Josef Von Sternberg, "Band à Part", de Godard, ou "The Big Sleep", de Howard Hawks.

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