quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

O Amor é Mais Frio do que a Morte (Liebe ist kälter als der Tod) 1969

Invulgar história de gangsters onde o pequeno chulo Franz (Fassbinder) se sente dividido entre a sua amante e Bruno (Ulli Lommel), o gangster enviado pelo sindicato que ele recusou entrar, para o matar. As coisas ficam complicadas quando Franz e Bruno se tornam amigos, partilhando até a namorada do primeiro, Joanna (Hanna Schygulla). Mas Joanna depressa se farta de Bruno...
Amor e vida sem paixão ou propósito no frio deserto urbano. Esta é a essência da longa-metragem de estreia de Fassbinder, um "film noir" revisionista e austero que, efectivamente, abriria caminho para grande parte da obra do realizador. Pelo menos os filmes da primeira parte da sua carreira. As influências de Fassbinder - o film noir americano e a Nouvelle Vague - são tão óbvias que não são possíveis de negar. Tornavam o realizador no mais extravagante dos realizadores alemães do pós-guerra, criando mesmo assim, uma carreira cheia de originalidade e importância. Os devotos da Nouvelle Vague vão logo encontrar muitas similaridades com dois filmes de Godard: "À Bout de Souffle" e "Bande à Part".
A paisagem de "O Amor é Mais Frio do Que a Morte" era a mesma com que muitos artistas viam o mundo no final dos anos sessenta, um mundo onde o consumismo desenfreado e o declínio moral desvalorizavam as relações humanas, criando uma crise existencialista florescente, na qual as pessoas pretendiam mais da vida do que um bom emprego e um bom carro. Os personagens principais deste filme parecem incapazes de mostrar emoções externas, semelhantes a autómatas, brinquedos que andam ás voltas, fazem coisas, mas não parecem estar vivos. Os três parecem impedidos de viver como mentes pensadoras, individualidades livremente motivadas, por causa das restrições externas impostas pela sociedade falhada onde eles existem.
Franz é um homem para quem a liberdade é tudo. Ele nunca consegue ser livre porque escolheu uma vida que o obriga a ser sempre perseguido, quer pela polícia, quer por outros gangsters. A aparente falta de humanidade que vemos nos três protagonistas é ampliada pela apresentação austera do filme. Fassbinder apresenta-nos uma visão do nosso mundo totalmente sem alma e estéril,  e um vazio existencial no qual a humanidade se perdeu no caminho, chegando a uma paródia sombria da vida, verdadeiramente e irremediavelmente sem sentido.
Realizado com um orçamento minúsculo, esteve presente no festival de Berlin de 1969, onde foi exibido ao lado de realizadores como De Palma, Godard, Petri, Saura, entre outros.

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