segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Amor e Preconceito (Fontane Effi Briest) 1974

No século 19, a jovem de 17 anos de idade Effi Briest está casada com um homem muito mais velho, o barão Von Instetten, e muda-se para uma casa que ela acredita ter um fantasma, numa pequena localidade do Báltico. Depressa ela tem uma filha, e contrata a católica Roswitha para cuidar dela. Effi fica sozinha cada vez que o marido parte em negócios, e começa a passar algum tempo com o Major Crampas.
Estamos exactamente a meio da curta mas muito produtiva carreira de Fassbinder, quando o realizador terminou aquele que é considerado o seu filme mais pessoal, e um dos que alcançou melhores críticas. "Fontane - Effi Breast" foi também um filme que marcou uma reviravolta na carreira de Fassbinder, que deixava para trás os seus filmes mais modestos, muitas vezes filmes mais experimentais, e passava a dedicar-se a obras orientadas mais para o circuito mainstream, que iria culminar na monumental série em 14 partes "Berlin Alexanderplatz". Fassbinder há muito que queria adaptar esta peça de Theodor Fontane, queria mesmo que tivesse sido o seu filme de estreia, mas felizmente preferiu esperar até conseguir alcançar uma boa reputação. "Effi Briest" de Fassbinder é uma das mais requintadas e pungentes adaptações literárias.
É aqui que o realizador mostra claramente todas as suas grandes influências. A presença do lendário novelista Bertolt Brecht é sentida em praticamente todas as cenas, e quem quiser saber precisamente o que é um filme Brechtiano tem de ver esta obra. A aproximação quase teatral que Fassbinder emprega nesta obra tem um sentido de ironia muito apurado e viciante. Tudo isto, com a fotografia assombrante a preto e branco de Jürgen Jürges enfatizam a falsidade do mundo no qual a heroína vive, um mundo no qual é compelida a suprimir os seus próprios sentimentos e a viver de acordo com as regras que lhe são impostas. O sentimento de repressão que Fassbinder emprega aqui, é quase sufocante.
Outra das influências que Fassbinder emprega aqui, é a de Douglas Sirk, um realizador alemão que ficou mais conhecido pelos melodramas que realizou nos anos cinquenta, em Hollywood. Fassbinder emprega muitas das técnicas usadas em "All That Heaven Allows" (1955). A repressão de Effi e o crescente sentido de isolamento do mundo, representado pelo repetido uso de espelhos, janelas e ramos de árvores para a manter num curto espaço físico e apertado. É uma prisioneira, imersa numa rede de medo e mentiras, incapaz de viver uma vida própria, destinada a ser esmagada como uma pessoa a morrer de asfixia.
Até aqui Schygulla tinha trabalhado com Fassbinder em quase todos os seus filmes, mas a relação entre os dois estava longe de ser saudável. Foi durante a produção deste filme que tiveram a sua maior discussão, que levou os dois a afastarem-se durante 4 anos. Talvez o conflito seja o melhor remédio para a criatividade.

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