sexta-feira, 15 de maio de 2015

Sim, Sr. Hulot (Trafic) 1971



Monsieur Hulot é um designer de carros da pequena e modesta fábrica Altra, que quer apresentar seu novo modelo em uma feira de automóveis em Amsterdam. Pega a estrada com o novíssimo carro e, certamente, incidentes dos mais malucos aparecerão para desespero dele e alegria da gente.
Jacques Tati ainda entrou num quarto filme com a mítica personagem Monsieur Hulot, que mesmo os fãs mais fervorosos do actor/realizador são obrigados a admitir que é um filme claramente menor do que aqueles que o precederam, e por isso mesmo raramente é falado ou discutido. O estatuto menor de "Trafic" deve-se em parte aos compromissos artísticos forçados em "Playtime", obra em que Tati tinha investido muito, e perdeu quase todo o seu dinheiro. "Playtime" não fora imediatamente apreciado pelo público, ou respeitado pela crítica, e o fracasso nas bilheteiras forçou a que este novo filme acabasse por não ser feito segundo os seus próprios termos. Curiosamente, "Trafic" era suposto ter sido a feito a quatro mãos, entre Tati e o realizador holandês Bert Haanstra, mas este acabaria por saír cedo do projecto, por o francês ser uma pessoa difícil de lidar.
"Trafic", tal como o próprio nome sugere, é sobre a obsessão da sociedade moderna pelos carros. Desde há muito que os carros são objecto de fascínio nos filmes de Tati, basta lembrar de como a personagem do Monsieur Hulot nos é introduzida pela primeira vez, em "As Férias do Sr. Hulot", a bordo do seu velho calhambeque, a caír aos bocados, e "Playtime" termina com um bonito ballet de carros a circularem em torno de círculo de tráfico. Assim, o objecto de "Trafic" encaixa-se como a progressão natural dos três primeiros filmes de Hulot. Mais uma vez a personagem de Tati aparece no centro da acção, aparecendo em mais cenas do que em todos os filmes anteriores, e falando mais do que em todos os três filmes combinados (embora raramente se entenda o que ele está a falar).
Embora "Trafic" tenha sido uma decepção, tendo em conta os filmes anteriores do realizador, tem momentos suficientes de inspiração e de boa vontade, que fazem com que merecesse mais do que a fraca recepção que teve na altura do seu lançamento, e, sobretudo, a ignorância que lhe deram.

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