quinta-feira, 12 de março de 2015
Bang Bang (Bang Bang) 1971
Um actor de um filme vive sem qualquer distinção da sua própria realidade pessoal e a realidade da personagem que está a interpretar. Procura por um sentido e por uma saída, enquanto é perseguido por bandidos, um mágico, uma fantasia romântica, um bêbado, e a sua própria imagem. O humor, a razão da perseguição, as situações, os personagens, os cenários, a banda sonora, levam-nos a símbolos, metáforas, e à recusa de uma possível narrativa lógica, de forma a permitir ao espectador passar por uma situação igual à do personagem principal.
"Bang Bang" é uma comédia surreal slapstick, formada por episódios em vez de uma narrativa vulgar. O seu conteúdo simbólico extremamente enigmático, rico em material étnico brasileiro, é influenciado pelo movimento do "cinema novo brasileiro", que apareceu no Brasil dos anos sessenta. Ao contrário dos filmes deste período, este não tinha nenhum conteúdo político em particular, e era projectado apenas com o entretimento em mente.
O "cinema novo" varreu o Brasil durante a década de 60, até 1972, largamente influenciado pelo neorealismo italiano, pela Novelle Vague, e pelos primeiros cineastas soviéticos. Eram filmes obscuros e destrutivos da vida brasileira, onde as contradições sociais e económicas se tornavam mais evidentes. Depois de um golpe de estado que engoliu o governo brasileiro, o cinema começou a evoluir para uma espécie de paródia do seu próprio passado, adaptando um tom deliberadamente kitsch, e uma estética que tentava desesperadamente ficar politicamente e culturalmente relevante.
Do cinema novo surgia um novo movimento, o cinema marginal, a estética do lixo, ou o "Údigrudi". Era o cinema underground brasileiro. Os realizadores do cinema marginal rejeitavam as fórmulas tradicionais do cinema popular, e encontravam a sua força no cinema experimental. Andrea Tonacci, nascido em Roma, mas criado no Brasil, foi um dos nomes mais importantes do cinema marginal. A sua longa metragem de estreia, "Bang Bang", é considerada um dos principais marcos do cinema underground brasileiro, e teve honras de exibição na Semana dos Realizadores do festival de Cannes de 1971. Este filme serve, por um lado para abrir o apetite para o ciclo do cinema marginal que aí vem, por outro para anunciar a vinda de Andrea Tonacci aos Encontros Cinematográficos do Fundão, que irão ter lugar nesta cidade, entre 20 e 22 de Março deste ano. Se tiverem tempo, e possam passar por lá, vale a pena, como podem ver pelo cartaz em baixo.
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