segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Mal (Mal) 1999



 Numa cidade, milhares de histórias revelam-se simultaneamente. Esta é a história de Cathy e Pedro , Daniel e o seu amigo... A história do casal Cruz, do avô que vem a Lisboa à procura da sua neta que fugiu... A história desta criança abandonada que vem anunciar o fim do mundo. E todos esperarão um novo amanhecer.
Mal é um grande filme sobre nós. Sobre nós enquanto comparsas da realidade de que o filme fala (agentes, companheiros, camaradas ou meros concidadões dos personagens e das coisas), sobre nós enquanto espectadores, a quem o filme interpela até ao ponto de tornar inevitável um juízo sobre os eventos (e nesse aspecto se dirá salutar na incomodidade que provoca). Há mesmo uma cena para nos armadilhar as razões e os rectos propósitos (esse espantoso momento de cinema em que o joalheiro leva a rapariguinha para uma pensão de passagem com as paredes forradas com o nome de Portugal. O filme não deixa que nos queiramos fora da circulação do mal, não consente a exterioridade e a paz de consciência - e quem não pensou o pior nessa cena, que atire a primeira pedra.
E, todavia, não há criaturas malignas no interior desta ficção, não há agentes responsáveis pela solidão em que todas as personagens mergulham, não é possível identificar o principio infeccioso, apenas a gangrena.
Alberto Seixa Santos é um cineasta de curta filmografia. Desequilibrada ao extremo, ainda para mais, no que isso quer dizer de gestos que se formaram como faróis (Brandos Costumes, A Lei da Terra), a par de gestos que falharam. Mas todos os seus filmes tiveram o condão de se quererem filhos do tempo que brotaram - e, se calhar, é justo constatá-lo, é ele o cineasta que melhor soube guardar o pulsar deste país ao longo do último quarto de século passado.

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