sexta-feira, 30 de setembro de 2016

A Deusa do Mal (Born to Be Bad) 1950

Christabel (Joan Fontaine) engana toda a gente graças ao seu doce exterior, incluindo a prima Donna, e o seu noivo Curtis. O único que consegue ver através da sua fachada é Nick (Robert Ryan), um escritor robusto que a ama, mesmo assim. Christabel também gosta de Nick, mas gosta mais do dinheiro de Curtis. Depois de convencer Curtis gosta dele apenas pelo dinheiro, consegue convencê-lo a casar com ela. 
Baseado no livro "All Kneeling" de Anne Parish, como muitos outros filmes feitos na RKO durante o regime caótico de Howard Hughes, "Born to be Bad" tinha uma história longa e complicada, cheia de sexo, intriga e traição, como se gostava naquela altura em Hollywood.
Joan Fontaine tinha comprado os direitos do livro, e vendeu-os para a RKO. O filme tinha sido programado para entrar em produção em 1946, mas tinha sido colocado em espera duas vezes, depois de passar pelas mãos de sete argumentistas diferentes, até começar a produção em 1949. Foi durante este período que Hughes acabou por adquirir a RKO.
"Born to be Bad" era o quarto filme de Nicholas Ray. Nas obras anteriores ele já tinha demonstrado um estilo visual impressionantemente original, e uma capacidade para transmitir uma intensidade emocional, mesmo quando se trabalha com o material mais banal. Uma sequência no inicio é um exercício em bravura e estilo, introduz-nos aos principais personagens e prepara-nos para uma festa em casa da personagem de Joan Leslie. O movimento brilhantemente coreografado e iluminado pelo corredor do apartamento, com muitas portas a conduzirem-nos para fora dele, fornece-nos uma metáfora visual para o relacionamento das personagens. O trabalho do director de fotografia Nicholas Musuraca, que já vinha a trabalhar em filmes desde a década de 20 e cujo trabalho em "Out of the Past" ajudou a redefinir o film noir, é impressionante nesta sequência.
Como já era típico na obra de Ray, este tentava tornar agonizante cada cena, enquanto o produtor Robert Sparks tentava fazer apenas um melodrama romântico. Depois do filme estar terminado, Howard Hughes, como era habitual, e como dono do estúdio, resolveu meter o dedo. Ordenou que algumas cenas fossem refilmadas com outros realizadores, e mudou o final. Ray pediu o direito à montagem final, mas este foi negado. A desculpa é que o final que Ray pretendia não passava nos censores, e quando o filme foi lançado foi criticado como apenas mais uma "soap opera". Com o passar dos anos, e com o culto de Nicholas Ray a crescer, o filme foi re-avaliado, e hoje é considerado uma obra muito maior.

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quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O Íntimo Segredo duma Mulher (A Woman's Secret) 1949

Susan (Gloria Grahame) está no hospital com uma bala perto do coração. Marian (Maureen O´Hara) contou à polícia que foi ela que disparou num acesso de fúria, depois de Susan ter decidido deixar de cantar. Susan era uma cantora limitada e fracassada quando Marian e Luke (Melvyn Douglas) lhe deram uma mão e a ensinaram a cantar, andar, vestir e falar, tornando-a numa cantora famosa. Luke não acredita que Marian tenha sido capaz de disparar sobre Susan, e espera que o detective Fowler descubra a verdade.
Nicholas Ray a fazer uma viagem inesperada ao mundo do melodrama romântico, numa obra que os críticos da altura chamaram de "filme de mulheres". Não é que o ponto de vista de Ray não permitisse uma visão feminina, alguns dos seus papéis mais importantes incluem personagens como as de Joan Crawford e Mercedes McCambridge em "Johnny Guitar", Natalie Wood em "Rebel Without a Cause" ou Gloria Grahame em "In a Lonely Place", mas "A Woman's Secret" foi o mais longe que Ray chegou no território da "soap opera". No entanto também oferece uma versão intrigante e mordaz de um assunto explorado com maior sucesso em "All About Eve" (1950).
"A Woman's Secret" era um filme que tinha de ser feito, não por causa da urgência no assunto, mas porque a RKO tinha de justificar o pagamento do ordenado a um staff de designers e técnicos, e um contrato de empréstimo de Maureen O´Hara, pela 20th Century-Fox. Além disso Grahame tinha conseguido um enorme destaque como call girl em "Crossfire", e precisava de mais filmes para a promoverem para o estrelato. Finalmente, o produtor John Houseman tinha recentemente assegurado a contratação de Herman J. Mankiewicz, argumentista com quem tinha trabalhado em "Citizen Kane" (1941), que na altura estava desempregado por causa dos vícios do jogo e alcool, e tinha aqui uma última hipótese, como argumentista e produtor.
Ray era um realizador ainda inexperiente e veio parar ao filme depois de Jacques Tourneur ter recusado. Acabou por ser mais um fracasso nas bilheteiras, depois do filme de estreia também o ter sido, mas trouxe a Ray uma nova esposa, Gloria Grahame. Envolveram-se durante o filme, e acabaram por casar. Grahame até chegou a deixar o cinema durante algum tempo para cuidar do filho de ambos, mas a relação terminava poucos anos depois, quando a actriz se apaixonava pelo filho mais velho de Ray, Tony. Os dois casariam anos depois, causando um escândalo em Hollywood, fazendo o filho de Grahame ser o seu próprio tio. 

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terça-feira, 27 de setembro de 2016

O Crime Não Compensa (Knock on Any Door) 1949

Andrew Morton (Humphrey Bogart) é um advogado saído das favelas. Nick Romano (John Derek) é o seu cliente, um homem com uma grande série de crimes atrás dele. Nick é acusado de assassinar um polícia. Apesar do advogado não acreditar nele, decide ajudá-lo porque não defendeu adequadamente o pai de Nick no passado, quando este foi acusado de um crime que não cometeu, acabando por morrer na cadeia. Salvar Nick é uma questão de honra.
"Knock on Any Door" é baseado num best seller de 1947 com o mesmo nome, escrito por Willard Motley. Motley, tal como o colega africo-americano Richard Wright era um produto do projecto de escritores financiados pelo governo federal de Chicago. Perseguido na altura da caça às bruxas, Motley fugiu para o México onde viveu até à sua morte em 1965. Os livros de Motley eram notáveis pela sua crítica social mordaz e os seus temas profundamente francos. A trama desenrolada em várias camadas apresenta uma série de motivos, incluindo a bissexualidade de Romano, e a representação do sadismo da polícia, que tiveram de ser atenuandos ou removidos do argumento final, para satisfazer os códigos de produção. 
Foi a primeira produção da Santana Pictures, uma companhia independente formada por Bogart, o seu agente A. Morgan Maree, e o produtor Robert Lord. Bogart escolheu o nome acidentalmente, por causa do nome do seu barco. Nicholas Ray, um realizador ainda muito jovem, foi emprestado pela RKO graças ao seu filme de estreia, "They Live By Night" (1949), com realizador e actor, Bogart e Ray a voltarem a encontrar-se no ano seguinte, para o enorme "In a Lonely Place" (1950), que garantiu a Bogart uma das suas interpretações mais complexas. 
Em parte o filme também era um veículo para o jovem protagonista John Derek, uma das maiores promessas da Hollywood de então. Aparecia sobretudo em filmes de aventuras, mas este depressa se tornaria num fotógrafo profissional e tentaria a sua sorte atrás das câmaras. No entanto acabaria por ficar mais conhecido como empresário e marido de uma sucessão de símbolos sexuais femininos: Ursula Andress, Linda Evans e Bo Derek.

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domingo, 25 de setembro de 2016

Filhos da Noite (They Live by Night) 1948

O primeiro filme de Nicholas Ray chamava-se "They Live By Night", baseado na mesma história que um filme posterior de Robert Altman chamado "Thieves Like Us", é uma história de um amor condenado entre um criminoso desesperado e uma simples e inexperiente jovem que vive no campo. É uma história tão antiga como a ficção do crime, ou mesmo tão antiga como o próprio tempo: o homem mau que quer algo melhor, sonha ter uma vida normal, e a jovem que o ama, mesmo sabendo que nunca vão ter a vida que querem. 
Bowie (Farley Granger) estava na prisão, por andar com as pessoas erradas quando aimda tinha 16 anos. Na prisão também se juntara às pessoas erradas, dois duros criminosos T-Dub (Jay Flippen) e Chickamaw (Howard da Silva). Bowie parece estar sempre no lugar errado, mas no fundo não é uma má pessoa. Keechie (Cathy O'Donnell) é a sobrinha de Chickamaw, que presta assistência ao gang depois de fugirem da cadeia e de uma assalto falhado, no qual Bowie saíu ferido. Estes dois jovens, Keechie e Bowie, são amantes improváveis, e não há uma ligação magnética, aparentemente irresistível, mas sim um amor desesperado, lentamente em desenvolvimento. Nenhum deles alguma vez teve sorte na vida, nem com as suas famílias. Ambas as mães fugiram com outros homens, o pai de Bowie foi morto na sua frente, e Keechie vive com um velho bêbado. 
Ray trata este jovem casal de uma forma muito sombria. O núcleo do filme é o romance entre estes dois, e o realizador consegue transportá-lo para o grande ecrã de uma forma soberba. A relação entre os jovens parece ser uma indicação da família improvisada formada por um grupo de proscritos, os adolescentes do famoso "Rebel Without A Cause" (Fúria de Viver), que Ray realizaria alguns anos depois. 
Apesar de ser o primeiro filme de Ray, já tem uma energia tão forte que o eleva acima de outras obras semelhantes. Mesmo assim as críticas da altura não foram particularmente boas, sendo o filme recuperado mais tarde, pelos críticos da "Cahiers du Cinema", elevando esta obra ao estatuto de culto, e um dos principais filmes do movimento do "film noir". 

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sábado, 24 de setembro de 2016

Play it Again, Nicholas Ray

Um homem em chamas corre directamente para a câmara. Uma jovem de 16 anos, despida até à cintura, é chicoteada por 3 adolescentes. Dois carros carregados com jovens fazem uma corrida um contra o outro num túnel escuro. Nenhum destes sketches da história original de Nicholas Ray foi incluído em  "Rebel Without a Cause" (1955), graças ao bastante modificado argumento, mas por aqui ficamos com uma idéia do que Ray andava à procura: caos, perigo e transgressão.
Dois anos antes, nos Cahiers du Cinema, Jacques Rivette escrevia que Ray tinha um gosto pelo paroxismo, que lhe transmitia algo de febril e impermanente, nos momentos mais tranquilos. Esta corrente de agitação existencial capturou a imaginação dos jovens "auteurs" dos Cahiers, para quem Ray se tornou um objecto de veneração. "O Cinema é Nicholas Ray", declarava Jean-Luc Godard, e François Truffaut, Rohmer e Rivette concordaram, ele era um poeta outsider do pós-guerra, violento e solitário, caminhando por todo o tipo de terrenos: westerns, noirs, thrillers, melodramas, filmes de guerra, sempre com a sua marca pessoal. A saber: complexidade psicológica, inteligência visual e um fatalismo romântico, que acompanharam sempre grande parte da sua carreira. Ray podia pegar num filme de pequeno orçamento da Republic, como "Johnny Guitar", e filmá-lo com Freud, tragédia grega e Joe McCarthy, e acabá-lo como se fosse um "camp classic", ao contrário de tudo o resto no género.
"They Live by Night", "Born to be Bad", "On Dangerous Ground", Rebel Without a Cause", "Hot Blood", "Bigger than Life", "Bitter Victory", "Wind Across the Everglades", "The Savage Innocents". Não precisamos de ver todos estes filmes para apreciar a poesia em Nicholas Ray. Como os condenados mas intensos romances que se pode encontrar nos filmes, a sua carreira foi curta mas apaixonante, cerca de 20 filmes em 15 anos, muitos deles verdadeiras obras primas. Em 1963 ele estava farto de Hollywood, e graças à sua autêntica força criativa continuou a dar aulas e a escrever, colaborando com os seus alunos para fazer "We Can´t Go Home Again" (mais um filme poético).
Sendo assim, nas próximas semanas vamos visitar toda a sua carreira, desde o inicio com o série B "They Live By Night", até ao opus final. Podem começar a ver os filmes a partir de segunda-feira.
Bom fim de semana.


sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Antes Que o Tempo Mude (Antes Que o Tempo Mude) 2003

Laura não sabe o que fazer com a sua solidão. Envolve-se em múltiplos jogos de sedução, incapaz de voltar para casa sozinha, sem alguém com quem trocar afectos. Troca confidências com a irmã, Sara, repartem jantares, confidenciam medos. Laura sente que tem de mudar, sair do caos que a sua vida tem sido, ainda mais quando os filhos a surpreendem com um estranho na cama. Procura então a mãe, como quem tenta reconciliar-se. Sara também tenta, mas não consegue e acaba por se afastar daquela casa, onde a mãe e a irmã almoçam entre o amor, a crueldade e a ternura. E o tempo muda sempre, ainda que pensemos ser capazes de o impedir.
"Com financiamento de curta-metragem, filmado em vídeo e só posteriormente passado a película, laborado com a voracidade de quem tem toda a voracidade do mundo em fazer um filme, "Antes que o Tempo Mude" é, do ponto de vista da produção, um objecto absolutamente sem paralelo no recente cinema português. Mais ainda porque aquilo que narra - a desordem afectiva de uma mulher divorciada - acontece numa oferenda sem limites da sua protagonista (Mónica Calle) que se entrega à personagem e às relações de cena (magnificas algumas das sequências com os miúdos) de uma forma comovente."  Texto de Jorge Leitão Ramos.

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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Clayton, o Cavaleiro da Noite (Amore, Piombo e Furore) 1978

A um pistoleiro condenado, Clayton Drumm (Fabio Testi), é dada uma hipótese de liberdade e salvação, se ele aceitar uma proposta apresentada pela companhia ferroviária. Matar um fazendeiro chamado Matthew Sebanek (Warren Oates), que se recusa vender as suas terras para a companhia. Clayton aceita a missão, mas a sua vitima parece ser uma pessoa agradável e os dois acabam por se tornar amigos. As coisas complicam-se quando a jovem noiva de Matthew se apaixona por Clayton.
"China 9, Liberty 37" (o titulo refere-se a um poste de sinalização que é mostrado no inicio do filme) é uma produção italo-espanhola com a excepção do realizador e um par de actores, com o resto da equipa de produção a ser europeia, principalmente italiana. A história de fundo, sobre as companhias de caminhos de ferro a retirarem pessoas das suas terras é sem dúvida uma homenagem ao filme de Sérgio Leone, "Aconteceu no Oeste", mas, por outro lado, esta obra parece mais um western revisionista americano, não fosse ele realizado por um dos realizadores de culto daquele país, Monte Hellman, que já tinha dado cartas em dois outros grandes westerns, "The Shooting" e "Ride in the Whirlwind", ambos de 1966.
Sam Peckinpah tem um pequeno papel (como escritor de "pulp fictions"), e há algumas semelhanças com o seu "Ride the High Country" (a noiva em fuga, os irmãos instáveis, e Warren Oates), apesar de Hellman ter declarado querer fazer um western mais tradicional, mas também há muitas semelhanças com os seus westerns mais experimentais, a atmosfera é muitas vezes opressiva, os diálogos são escassos, e embora os dois protagonistas serem pistoleiros esta é uma história que se foca mais nas relações entre pessoas isoladas da sociedade.   
Realizado numa altura em que os spaghetti já tinham praticamente desaparecido, não é uma obra para quem gostasse do filme mais tradicional deste género, mas ainda assim é um autêntico filme de culto.

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terça-feira, 20 de setembro de 2016

Keoma (Keoma) 1976

Franco Nero interpreta Keoma, um meio-indío que regressa a casa da Guerra Civil, e encontra-a sob o comando de Caldwell, um ex-confederado e o seu bando de bandidos. Para fazer as coisas piores, os três meio-irmãos de Keoma juntaram forças com Caldwell, e deixam dolorosamente claro que o seu regresso não é bem vindo. Determinado a derrotar Caldwell e os seus irmãos do controlo da cidade, Keoma junta-se ao antigo capataz da quinta do seu pai, para derrotar os adversários. 
Alternando entre a epatia e o brilhantismo, entre o monstruosamente kitsch e o mais profundo significado alegórico, "Keoma" foi o último grande spaghetti numa altura em que o género já estava morto. Com as suas imagens crepusculares e os seus temas apocalípticos, "Keoma" tornou-se o epónimo desses chamados "twilight westerns" (não confundir com os westerns americanos sobre a morte do Oeste), que marcaram a última desesperante tentativa de revitalizar um género que nesta altura apenas sobrevivia da auto paródia e da comédia. Mesmo o sucesso de "Keoma" não conseguiu recuperar o interesse do público por mais do que este filme em particular. Em parte fascinante, "Keoma" foi o mais ambicioso e melhor dos westerns de Enzo G. Castellari, ganhando um fenómeno de culto que vingaria até aos dias de hoje.
É um filme místico, simbólico e referencial. Com tocas a iluminarem a cidade à noite, cidade que mais parece uma cidade medieval do que uma cidade do oeste tradicional. Existem algumas semelhanças com "O Sétimo Selo" de Ingmar Bergman (a praga, a atmosfera de decadência) e as idéias cristãs sobre a morte e ressurreição são fundidas com o ciclo da destruição e renascimento da religião natural. Quando uma velha mulher lhe pergunta porque ele voltou, Keoma diz que o mundo continua a girar, e o homem acaba sempre no mesmo lugar. Originalmente esta mulher era para simbolizar a morte, mas a idéia acabou por ser alterada, e ela é agora uma deusa com o poder de decidir entre a vida e a morte. 

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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Gigantes em Duelo (I Giorni Dell'ira) 1967

Lee Van Cleef é um pistoleiro envelhecido que num esforço para recuperar a sua reputação de temível abate um xerife local. Descobre então que tem de lidar com o seu jovem protegido, interpretado por Giuliano Gemma, que também é o melhor amigo do xerife. No confronto final vão enfrentar-se os dois, que conhecem muito bem cada movimento do outro.
Comparações foram feitas no passado, entre o argumento deste filme e de "Star Wars", e é fácil perceber porquê. Os velhos temas do aluno e do seu mentor, de um jovem a aprender a usar as suas habilidades naturais, a fim de entrar na idade adulta, são semelhanças com o filme de Lucas. As semelhanças ainda são mais impressionantes se lhe adicionarmos a dimensão do jovem herói a ser tentado pelo lado negro, e o poder que lhe pode ser adicionado, juntamente com o confronto final onde ele tem de derrotar a sua figura de pai, a fim de se libertar de toda a tentação. É possível que Lucas tenha sido influenciado por "Day of Anger" na construção de "Star Wars" (Lucas declarou ser fã do spaghetti western), mas é mais provável que ambos os filmes partilhem uma origem em comum.
E pode ser este tema universal que faz deste filme tão satisfatório. Não é excessivamente complicado, não é especialmente inovador em qualquer uma das áreas, mas funciona a praticamente todos os níveis. O realizador é Tonino Valerii, que era conhecido como um dos argumentistas não creditados de "Por um Punhado de Dólares" (outros são Fernando di Leo e Duccio Tessari), e que faria uma carreira muito interessante no território do spaghetti. Este seria o seu spaghetti mais conhecido, a par de "O Meu Nome é Ninguém".

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domingo, 18 de setembro de 2016

Corre Homem Corre (Corri Uomo Corri) 1968

Cuchillo um ladrão e excelente atirador de facas, é perseguido por um gang até à fronteira do Texas por saber onde está escondida uma grande fortuna. Fazem parte desta gang mercenários franceses que trabalham para o Governo Mexicano e Nathaniel Cassidy um pistoleiro americano que apesar de interessado no dinheiro, ainda conserva alguns ideais. Agora Cuchillo terá que enfrentar duas grandes forças, a namorada, sensual e extremamente ciumenta e o gang de Cassidy.
 Terceiro e último Western de Sérgio Sollima, uma sequela do mais conhecido "The Big Gundown", considerado um pouco inferior pela maioria dos criticos e fãs do spaghetti western, e sem o protagonista do filme anterior, Le Van Cleef. O único elo de ligação entre os dois filmes é Tomas Milian, repetindo o papel de Cuchillo Sanchez, o peão mexicano armado com facas. É um filme episódico, um pouco mais leve que o filme anterior, muito sério para ser considerado uma comédia (como os da série Trinitá), mas também muito cómico para ser considerado um spaghetti normal. Mas, há aqui mais para descobrir, do que aparenta...
Apesar de ser menos complexo do que os outros dois westerns de Sollima, é um perfeito exemplo dos estudos de personagens que Sollima costuma utilizar nos seus filmes. São muitas vezes sobre pessoas que mudam, descobrem a sua própria natureza, em circunstâncias difíceis."The Big Gundown" tinha mostrado a transformação de Cuchillo Sanchez, de um peão mexicano para um bandido social, que força o agente da lei interpretado por Cleef a fazer uma "escolha de classes". É obrigado a escolher entre poupar a vida a um homem inocente, ou fazer a vontade ao homem que poderia ajudar na sua carreira política. Em "Run Man Run" é Cuchillo Sanchez, o homem do título que muda para melhor por força das circunstâncias e das pessoas que encontra. Ao longo do filme, Cuchillo muda de um pequeno criminoso e vagabundo para um herói revolucionário. 
Existe uma enorme discussão sobre quem escreveu a banda sonora. Sollima referiu que esta é da autoria de Ennio Morricone, mas muita gente creditou-a a Bruno Nicolai. Seja ela de quem for, é das melhores dentro deste género.

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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Um Dólar Entre Os Dentes (Un dollaro tra i denti) 1967

Um estranho chega a uma cidade fronteiriça onde testemunha como um regimento do exército mexicano é aniquilado por bandidos, que tomam o lugar dos soldados num negócio lucrativo com o exército americano. O estranho é contratado pelos bandidos para os identificarem como federais, mas depois de fazer o seu trabalho o líder dos bandidos tenta eliminá-lo. 
O primeiro (e melhor) de uma série de filmes onde o actor Tony Anthony interpreta um personagem conhecido como "The Stranger". Embora o filme tenha sido co-produzido por Allan Klein, foi feito com muito pouco dinheiro. Foram utilizados apenas um punhado de cenários e tem muito poucas falas, sendo por vezes considerado uma versão pobre de "Por um Punhado de Dólares", mas o realizador Luigi Vanzi usa uma versão simplificada do argumento do filme de Leone para fazer um filme que, definitivamente, tem o seu cunho pessoal. Na verdade este é um excelente western spaghetti minimalista, atmosférico e violento. 
Um estranho vestindo um poncho não foi a única idéia directamente "emprestada" de "Por um Punhado de Dólares", o que levou os críticos a classificarem-no como a versão mais impertinente de todos os filmes derivados dos westerns de Leone. O que os críticos muitas vezes se esqueciam é que o personagem de Tony Anthony tinha o seu próprio charme, e o realizador Luigi Vanzi era auto-suficiente o bastante para trazer para a história o seu próprio sentido. Um filme malvado, taciturno, violento, decorado com um grande vilão interpretado por Frank Wolff, actor que veriamos em inúmeros westerns. 

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quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Uma Pistola para Ringo (Una pistola per Ringo) 1965

Numa cidade fronteiriça o famoso pistoleiro Ringo mata quatro pessoas em auto defesa, mas acaba por ser preso. Enquanto isso, um grupo de mexicanos atravessa a fronteira para assaltar o banco local. O seu líder é ferido na fuga quando tentam escapar, o que leva os bandidos a refugiarem-se numa quinta nas proximidades, fazendo dos seus ocupantes reféns. O xerife está relutante em tomar medidas, porque a sua noiva está entre os reféns. A única pessoa que agora os pode ajudar é Ringo, que é colocado em liberdade com o intuito de se infiltrar entre os reféns. 
O primeiro de dois filmes sobre a personagem de Ringo foi um dos westerns italianos de maior sucesso, feitos no rasto de "Por um Punhado de Dólares". Conta uma história semelhante, a de um estranho que intervém num conflito, mas a abordagem de Duccio Tessari é mais superficial que a personagem do homem sem nome de Eastwood. Ringo é um herói barbeado, bem vestido, e muito bem parecido, mas no bom estilo do western spaghetti, ele é letal com a arma. O seu lema é "Deus criou os homens todos iguais, mas o Colt fê-los diferentes". Este filme fez de uma estrela o actor Giuliano Gemma, um antigo duplo, assim como de Fernando Sancho, um dos actores espanhóis mais prolíficos de todos os tempos.  
Foi um filme muito importante para a indústria italiana ao demonstrar que os seus filmes podiam fazer sucesso sem uma estrela ameiricana de importação. Tessari queria Fernando Rey para o papel do aristocrata, mas quando este actor recusou, os co-produtores espanhois avançaram com o nome de Antonio Casas, um ex-jogador de futebol do Atlético Madrid. Não é um filme muito violento, mas a contagem de corpos é bastante elevada, e há pelo menos uma cena muito escandalosa com Sancho a executar peões mexicanos, que inspiraria Corbucci a fazer uma semelhante em Django.
O sucesso do filme levaria a uma sequela, "O Regresso de Ringo", feito pelo mesmo realizador, com praticamente os mesmos actores e filmado nos mesmos locais, mas com uma história bem diferente.

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segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Sabata (Ehi Amico... c'è Sabata. Hai Chiuso!) 1969

O banco de Daugherty é assaltado na mesma noite em que Sabata (Lee Van Cleef) chega à cidade. Ao seguir os ladrões consegue matá-los e recuperar o dinheiro. Mas Sabata não fica satisfeito e com uma investigação mais profunda descobre que os três poderosos de Daugherty, o Coronel Stengel (Ressel), o Juiz O’Hara (Rizzo) e o banqueiro Fergusson (Antonio Gradoli) estão por trás do roubo. Com a ajuda de dois vagabundos da cidade, Carrincha (Sanchez) e Alley Cat (Nick Jordan) começa a chantagear os vilões. Mas tudo se complica com a intromissão de Banjo (Berger).
Uma das personagens preferidas do spaghetti western, que tem a sua estreia neste filme, é Sabata, interpretada também por um dos actores preferidos no género, que contava já com um número considerável de westerns filmados em Itália, Lee Van Cleef. Cleef foi a escolha ideal para um papel com uma certa ironia cómica, que repetiria numa sequela bem sucedida, "O Regresso de Sabata" (com Yul Brynner a ser escalado para um filme intermédio, não oficial). Embora a procura de westerns italianos estivesse a desacelerar entre o final dos anos sessenta, e inicio dos anos setenta, a United Artists conseguiu transformar este filme num sucesso, mantendo a fama de Cleef por mais alguns anos.
O tom gótico e peculiar do filme é estabelecido logo de inicio, numa tentativa de assalto a uma carruagem. O filme está cheio de estranhos toques, como vilões acrobatas, e sidekicks coloridos, e fica uma nota de destaque para o austriaco William Berger, aqui no papel de co-estrela, mas prestes a destacar-se no giallo de Mario Bava, "5 bambole per la Luna D'agosto." Aqui é um pistoleiro ruivo cujas verdadeiras motivações só serão descobertas na cena final do filme. 
Gianfranco Parolini, nome forte do cinema de género, que já tinha realizado anteriormente vários peplum, é o realizador e argumentista.

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sábado, 10 de setembro de 2016

A Morte Vem a Cavalo (Da Uomo a Uomo) 1967

Numa noite chuvosa, um grupo de cinco homens invade uma casa de campo e violam e matam a mãe, e matam o pai, deixando o jovem filho vivo. O jovem (John Phillip Law) cresce cego pela raiva, sedento por vingança num periodo de 15 anos. Também durante estes 15 anos, Ryan (Lee Van Cleef) é libertado da cadeia, também com fome de vingança, pelos homens que o puseram lá. Ryan mata um homem e passa a usar as mesmas esporas que um dos homens que matou os pais do jovem. Quando ele se apercebe persegue Ryan, na esperança de chegar aos outros assassinos dos seus pais, mas pelos vistos ambos querem vingança dos mesmos homens...
A interacção entre os dois personagens principais é maravilhosa. Ambos começam a ter desprezo pelo outro, mas acabam a salvar a vida um ao outro por várias ocasiões. Não são apenas os personagens que são grandes, mas também a realização de Giulio Petroni, que garante ao filme uma óptima atmosfera, com os seus grandes movimentos de câmara.
 Depois do sucesso dos dois primeiros  da trilogia de Leone, o western viria a tomar conta da indústria cinematográfica italiana, e surgiram inúmeros imitadores que levaram à saturação este género. Petroni apenas realizou duas mãos de filmes em toda a sua carreira, e foi um dos melhores neste periodo de ouro do western, realizando três westerns muito relevantes. Para além deste, destacavam-se "Tepepa" e "E per Tetto un Cielo di Stelle". "Da Uomo a Uomo" contava com outro trunfo muito importante, o argumento de Luciano Vincenzoni, que co-escreveu também scripts de filmes como "Por Alguns Dólares Mais", "O Bom, o Mau, e o Vilão", "Il Mercenario" e "Giù la Testa", o último western de Leone.

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quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Cara a Cara (Faccia a Faccia) 1967

Depois do grande sucesso comercial de "The Big Gundown", o primeiro western de Sollima, o mesmo voltou ao género logo de seguida, voltando a reunir-se com Tomas Milian, para "Faccia a Faccia". Ao lado de Tomas Milian, como o fora-da-lei Solomon Beauregard Bennet, encontrávamos outra grande estrela do género, que vinha dos filmes de Leone, Gian Maria Volonté como Brad Fletcher, um professor a morrer de uma doença nos pulmões.
O filme começa com o rapto de Fletcher por Beauregard, que originalmente leva Fletcher como refém, mas os dois começam a formar uma amizade depois de o raptado ajudar o raptor, acabando também por se tornar num fora-da-lei. Beauregard ensina-o a disparar uma arma, introduzindo-o a um mundo violento do qual ele não estava familiarizado, assim como também o introduz ao seu bando. 
A progressão da narrativa é dominada por estas duas personagens, nas mudanças dos seus comportamentos e atitudes. Enquanto ocorrem eventos importantes dentro da história, assaltos a bancos, e planos para capturar esta dupla pelos agentes policiais, é a relação entre os dois, e o seu gradual desenvolvimento que faz deste filme uma obra tão fascinante. Há um interruptor fundamental no comportamento dos dois personagens. Fletcher começa o filme como um intelectual, incapaz de disparar uma arma, muito distante do mundo fora da lei de Beauregard, que começa o filme do lado oposto. Os dois personagens vão inverter os papéis, mas não é uma simples mudança directa, porque Beauregard começa a perceber que existe muito mais vida para além daquela que ele conhece, enquanto Fletcher se vai tornando em algo ainda mais desprezível e destrutivo do que o seu mentor. 
Com uma banda sonora de Sérgio Morricone, e um argumento de Sergio Donati, que escreveu todos os westerns de Sollima, além de "Aconteceu no Oeste", "Faccia a Faccia" é um dos mais importantes spaghettis de todos os tempos. 

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terça-feira, 6 de setembro de 2016

O Grande Pistoleiro (La Resa dei Conti) 1966

Jonathan Corbett (Lee Van Cleef) é um famoso caçador de recompensas que costuma apanhar sempre o seu homem. Numa festa é alarmado por um grupo de jovens que diz ter visto um mexicano violar e matar uma jovem de 12 anos de idade. Corbett resolve ajudar, e parte em busca daquele assassino. Depressa descobre que o mexicano parece ser Cuchillo Sanchez (Tomas Milian), e dirige-se para a fronteira mexicana. Corbett pretende apanhá-lo e trazer à justiça, mas será que ele é realmente o culpado?
Dirigido com grande estilo e perspicácia por Sergio Sollima, "The Big Gundown" tirou vantagem do novo status de estrela de Lee Van Cleef, depois do sucesso de "Por Alguns Dólares Mais", e do grande argumento de Sergio Donati (a partir de uma história de Franco Solinas), que conseguiu filtrar a natural tendência esquerdista de Sollima do ponto de vista educativo, anulando as criticas sobre ganância, supressão e corrupção, embora a sua posição política seja bem visível ainda hoje em dia, tornado o filme mais acessível que os seus homólogos de Hollywood.
Tendo sido feito antes de "O Bom, o Mau, e o Vilão" (também de 1966), este filme está cheio não só de reviravoltas dramáticas, mas também de um orçamento elevado, que faz dele um filme tão sofisticado como os melhores westerns de Hollywood. Estava também muito à frente da maioria dos westerns spaghetti que o seguiriam, onde cineastas reciclavam o reusavam cenários construidos de raíz por Leone e Sollima, respectivamente.
Sendo este o primeiro western de Sollima, foi um sucesso em Itália tornando Milian numa estrela de primeira grandeza e provando que Van Cleef podia brilhar fora dos filmes de Leone. foi lançado nos Estados Unidos dois anos depois, conseguindo um resultado nas bilheteira acima dos dois milhões de dólares, e obtendo criticas bastante favoráveis em publicações como o New York Times.

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segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Django Mata (Se sei Vivo Spara) 1967

Um bandido mexicano e o seu grupo são traídos e executados por um gang de ladrões americanos, que ajudaram a assaltar uma carruagem de transporte de ouro. Depois da poeira assentar, o bandido mexicano simplesmente conhecido como "The Stranger" consegue escapar com vida, e persegue os americanos que mataram os seus amigos.
Um spaghetti muito pouco convencional e bizarro, que tem muito pouco a ver com o "Django" (1966), de Sergio Corbucci, apesar do título internacional ser "Django Kills...If you Live, Shoot!", que levou o filme a ser promovido na américa como fazendo parte da série. Este acaba por ser um filme completamente sozinho, apesar de partilhar com o de Corbucci uma grande quantidade de cinismo e uma visão amarga do mundo que era pouco comum, mesmo nos westerns italianos. Esta espécie de desolação explorada em "Se Sei Vivo Spara", viria a tornar-se um esteio para todos os westerns da década de 70 (ver, por exemplo, "High Plains Drifter"), mas para 1967 era incrivelmente ousado e audacioso, e poucos filmes do género conseguiram alcançar uma atmosfera tão alienada. Giulio Questi, o realizador e argumentista do filme, não estava satisfeito com o nome que ele levou (e ainda menos com os diversos cortes que o filme sofreu nas mãos de diversos censores), preferindo apenas " If You Live…Shoot! ", que era uma representação muito mais precisa dos eventos do filme. Se bem quem, sem o prefixo "Django", o mais certo era ele desaparecer na obscuridade, no meio de tantos western spaghettis.
Superficialmente pode parecer um tradicional western de vingança, mas logo avança para uma mistura de terror gótico e filme de arte. Tomas Milian interpreta o arquétipo "stranger",  ou o "homem sem nome", traído e deixado para morrer pelo vilão de serviço. Trazido de volta para a vida por dois misteriosos índios que lhe dão um saco de balas de ouro de presente, ele vai partir para a vingança, acabando numa bizarra cidade, conhecida como “The Unhappy Place”. É aqui que o tom do filme muda drasticamente, quando Milian percebe que a cidade e os seus habitantes são loucos desviados sexualmente, com um desejo de violência sadomasoquista. 
Injustamente esquecido durante muitos anos, tomado como um rip-off de "Django", "Se Sei Vivo Spara" tem tanto em comum com o filmes de Luis Buñuel como com os de Leone. um dos spaghettis mais alternativos, sem qualquer dúvida.

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domingo, 4 de setembro de 2016

O Mercenário (Quién sabe?) 1966

Gringo Bill Tate (Lou Castel) viaja de comboio para Durango, no México da década de 1910, uma época de revolução de bandos de bandoleros errantes. Depois do comboio ser emboscado pelo gang de El Chucho (Gian Maria Volonté), Tate tira o melhor partido da situação, e depois de ser baptizado por El Niño, junta-se aos bandidos que estão a colecionar armas para o revolucionário General Elias. Mas na realidade, Gringo tem um plano secreto, que já está a ser posto em prática...
Muito violento para a sua época, é um filme cheio de acção e com um grande sentido de humor, fortemente politizado. O argumento é escrito pelo criador do argumento de "A Batalha de Argel", de Gillo Pontecorvo,  Franco Solinas, (que também escreveu o argumento de outros filmes politizados, como "Salvatore Giuliano", "Tepepa", "Queimada", "La Resa Dei Conti", "État de Siège", ou "Le Soldatese", que vimos recentemente no ciclo de Zurlini), e é um filme solidário com os revolucionários de esquerda. A sequência final não faz mistério sobre a tendência política deste filme de Damiano Damiani, mas, no entanto as coisas não são tão simples assim, os bandoleros também participam em invasões de casas particulares, que expôe o lado obscuro do movimento para a redistribuição de terras mostrando a ganância que não é menor do que a dos ricos proprietários das terras. 
.Este filme é muitas vezes interpretado como uma alegoria sobre o envolvimento dos Estados Unidos nas políticas sul americanas. Em 1966 não havia qualquer evidência de actividades ilegais da CIA, mas havia muitos rumores, e na altura que o filme foi lançado era difícil não interpretá-lo doutra forma, a não ser do envolvimento externo dos americanos. Tal como a maioria dos argumentistas "comprometidos" dos anos sessenta, Solinas era marxista. Era um teórico bem versado em teorias marxistas, e isso reflecte-se inevitavelmente nas suas narrativas e caracterizações. Este filme acabaria por dar inicio a um novo sub-género dentro do "spaghetti", chamado Zapata. Não teria muitos seguidores na tela, mas os poucos que teve seriam de inegável importância. 
Nota: não confundir o título em português com o filme de Sérgio Corbucci com o mesmo nome. Também ele um western Zapata, e que em Portugal ficou com o título de "Pistoleiro Profissional".

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sábado, 3 de setembro de 2016

A Primeira Divisão dos Spaghetti Westerns

Não sei se vocês se lembram, mas o último ciclo do My One Thousand Movies foi sobre os spaghetti westerns, um ciclo que pretendia ser uma chave para quem quisesse descobrir o género. Infelizmente o blog foi apagado a meio do ciclo e toda a base de dados se perdeu. Mais tarde, já neste M2TM esse ciclo foi dividido em dois outros ciclos: Os Spaghetti de Sergio Corbucci, e um ciclo maior de westerns mais desconhecidos, que se chamou de "Os Outros Spaghettis". Com isto tudo, ficaram de fora uma importante série destes filmes, que incluía os de Sergio Sollima, "Keoma", "Sabata", entre outros.
No universo do género só existem um nome incontornável, o de Sérgio Leone. Tudo o que vem depois de Leone, é mais ou menos obscuro, mas inclui muitos filmes de inegável qualidade. Já tínhamos visto por aqui os de Corbucci, e agora vamos ver todos os outros spaghettis de primeira linha.
Preparem-se, porque vai haver muitos tiros nas próximas duas semanas.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Deserto dos Tártaros (Il Deserto dei Tartari) 1976

Adaptado de um livro de 1940 do autor italiano Dino Buzzati, "Deserto dos Tártaros" segue um jovem recruta do exército imperial austro-húngaro, enquanto cumpre a sua primeira missão no distante forte Bastiano, que tem vista para o deserto e para uma montanha hostil (presumivelmente na Rússia). A acção do livro de Buzzati era passada num periodo e localização indefinidos, mas Zurlini transportou a história fortemente alegórica, para o século 19, no centro da Europa, sem grandes problemas. Competentemente filmado, o filme é também muito fiel ao livro original.
O protagonista é o tenente Drogo (Jaques Perrin), que está sedento por acção, mas fica desapontado ao descobrir que Bastiano é uma espécie de clube de cavalheiros, onde o jantar é acompanhado por uma orquestra à luz de velas, e o único combate que pode encontrar são as lutas de esgrima no ginásio. Drogo fica muito desiludido e decide partir à primeira oportunidade. Inicialmente tenta transferência para uma base mais agitada, mas aos poucos Bastiano torna-se a sua ilha. Enquanto isso, segredos mistérios e dúvidas vêm gradualmente à superfície. 
As comparações com a filmografia de Michelangelo Antonioni são óbvias, principalmente por causa do foco na alienação e no vazio, o diálogo escasso, e a paisagem ser o personagem principal. O director de fotografia Luciano Tovoli, já tinha filmado duas vezes com Antonioni, um raro documentário sobre a China, e "Profissão: Repórter", do ano anterior. Filma com enorme beleza as paisagens desérticas e os picos cobertos de neve, com cada quadro a ser composto com o máximo de detalhe. Os dois temas principais, o "medo" e o "desconhecido" são universais para qualquer ser humano, e com eles somos confrontados várias vezes ao longo da vida. Zurlini, metodicamente, expõe-nos a um perigo que nunca se materializa totalmente. Não é facil descrever este filme, já que cada espectador tira uma idéia diferente.
De destacar ainda a banda sonora assombrosa de Ennio Morricone, e um elenco cheio de estrelas: Jacques Perrin, Vittorio Gassman, Giuliano Gemma, Phillip Noiret, Francisco Rabal, Fernando Rey,  Jean-Louis Trintignant e Max von Sydow. 

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