domingo, 28 de dezembro de 2014
Um Dia Nas Corridas (A Day at the Races) 1937
O assistente (Chico Marx) da dona de um sanatório (Maureen O’Sullivan) tenta ajudar solicitando fundos, contratando um médico de cavalos (Groucho Marx), por quem uma paciente hipocondríaca (Margaret Dumont) tem uma paixão. Entretanto o namorado da dona (Allan Jones) compra um cavalo de corrida, esperando que o jóquei (Harpo Marx) consiga com ele fazer algum dinheiro.
Embora este sucessor de "A Night at the Opera", que conseguiu alcançar muito sucesso, seja adorado por muitos (foi escolhido pelo American Film Institute como o 59º filme americano mais engraçado), mas, no entanto, parece marcar o início do declínio dos irmão Marx, como uma força reconhecida. Irving Thalberg (o novo produtor dos irmãos na MGM) morreu subitamente durante a produção deste filme, e Groucho revelou ter perdido todo o interesse em fazer mais filmes, que de certa forma foi sentido nas obras seguintes. Todos os ingredientes habituais dos filmes dos irmãos estão aqui disponíveis, com muito humor e interacção entre eles e o elenco de apoio, incluindo a fiel Margaret Dumont. Com a duração de 111 minutos, é um dos maiores desta equipa, talvez até um pouco longo demais para o tipo de humor praticado.
Era a primeira vez que um filme dos irmãos Marx era nomeado para um Óscar, neste caso de número musical, com uma sequência de dança impressionante. Os filmes musicais eram muitos abundantes nestes anos 30, e o prémio acabaria por ser ganho por um filme de George Stevens, "A Damsel in Distress".
Atrás das câmaras está uma vez mais Sam Wood, que já tinha realizado o filme anterior, e entre o grande elenco estava o jovem Richard Farnsworth, que tinha a sua estreia absoluta à frente das câmeras.
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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
Uma Noite na Ópera (A Night at the Ópera) 1935
Os Irmãos Marx estão, desta vez, na alta sociedade. Dois apaixonados que cantam ópera são impedidos de estarem juntos por um terrível tenor. Utilizando as inúmeras tropelias de que são capazes, os irmãos Marx vão conseguir juntar os dois apaixonados.
Dois factos importantes neste sexto filme dos irmãos Marx: 1) Zeppo deixava de interpretar com os irmãos. 2) Os irmãos trocavam a Paramont pela Metro-Goldwyn Meyer. Era um facto que Zeppo não tinha tanta graça como os irmãos, e os seus papéis eram sempre secundários, então acabaria por trocar a sua carreira de actor pela de inventor. Nunca mais seria visto num filme até à sua morte, em 1979. em 1969 Zeppo patenteou um relógio de pulso para doentes cardíacos, que soava um alarme se o doente tivesse uma paragem cardíaca. Ainda havia um quinto Marx, Gummo, que deixaria a equipa antes dos outros se iniciarem nas lides do cinema.
A mudança para a MGM marcaria uma mudança de rumo na carreira dos Marx. Nos filmes da Paramont eles eram mais anárquicos, pois atacavam qualquer um que cruzasse no seu caminho, na nova produtora reservavam os ataques apenas para os vilões. As mudanças impostas por Irving Thalberg acabariam por surtir efeito, e tornava-se num êxito de bilheteira, embora apenas na sua segunda edição. Nesta segunda edição foram cortados 9 minutos da montagem inicial.
Em "A Night at the Opera" os personagens dos irmão estão mais cuidados do que anteriormente. Groucho fica mais sensato, Chico mais inteligente, e Harpo mais infantil. O argumento era mais cuidado, com um princípio meio e fim, ao passo que a versão anterior era caracterizada por uma sucessão de gags, que se sobrepunham ao argumento. Esta nova versão dos Marx conseguia claramente mais sucesso, embora muitos fãs prefiram as aventuras anteriores.
O luxo também passava para trás das câmaras, com a realização deste filme a ir parar às mãos de Sam Wood, um realizador já com uma carreira invejável no campo da comédia e do drama, que vinha desde o período do cinema mudo, tendo realizado algumas obras relevantes em Hollywood. Wood ainda seria chamado mais uma vez para dirigir os Marx, e não muito depois conseguiu três nomeações ao Óscar de melhor realizador quase consecutivas.
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Os Grandes Aldrabões (Duck Soup) 1933
O pequeno estado de Freedonia está numa confusão financeira, depois de receber uma enorme quantia de dinheiro emprestado da viúva Mrs. Teasdale. Ela insiste em substituir o actual presidente pelo louco Rufus T. Firefly (Groucho), e o caos rebenta. Para piorar as coisas, o estado vizinho envia dois espiões trapalhões, Chicolini e Pinky (Chico e Harpo), para obter informações ultra-secretas, criando ainda uma maior confusão.
"Duck Soup" ainda tem uma vantagem nos tempos que correm, porque é o melhor filme para nos lembrar o quanto perigosos os irmãos Marx eram. Groucho é hilariante, mas ninguém está a salvo dos seus palavreados cruéis. Chico pode ser encantador mas perderá os seus valores mal viremos as costas. Harpo pode ter o olhar inocente de uma criança, mas só precisa de um segundo para explodir num ataque de violência física. Isto é apenas uma indicação de quanto bons os irmãos Marx eram, e tão rápida e certeira que era a realização de Leo McCarey, o melhor realizador a trabalhar com os irmãos, e o que maior sucesso teve na sua carreira posterior. Venceria dois Óscares de Melhor realizador, com "The Awful Truth" e "Going My Way". Raramente, nos filmes dos irmãos Marx nos debruçamos sobre estes factos, mas neste filme em especial, é algo a ter conta.
Quando "Duck Soup" foi feito, a Primeira Guerra Mundial ainda era uma memória cruel e dolorosa, então podemos imaginar o quanto seria chocante a sequência em que Groucho abate os seus próprios homens no campo de batalha, antes de subornar as pessoas para manterem segredo. E essa era a verdadeira genialidade dos irmãos Marx, pegar em assuntos tabu para fazê-los engraçados. Mas "Duck Soup" não era apenas uma sátira sobre a Guerra, contém também algumas das sequências mais inspiradas desta equipa, e muita gente ainda o considera o melhor filme dos irmãos Marx.
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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014
Os Irmãos Max na Universidade (Horse Feathers) 1932
O professor Quincy Adams Wagstaff (Groucho) acaba de ser nomeado como novo presidente do Huxley College. A sua atitude de cavalheiro perante a educação não é reservada para com o filho Frank (Zeppo), que anda envolvido com a viúva do colégio, Connie Bailey. Frank convence o pai a recrutar dois jogadores de futebol para vencer a escola rival, de Darwin. Equivocadamente Wagstaff contrata os jogadores errados, Baravelli e Pinky (Harpo e Chico). Depois de descobrir que a escola de Darwin contratou os jogadores corretos, Wagstaff contrata Baravelli e Pinky para raptarem os jogadores do clube rival, o que leva a um final anárquico.
Realizado por Norman McLeod, que também tinha realizado o filme anterior, tem um bom controle no sentido rítmico do quarteto, e a interacção quase perfeita entre todos. O filme movimenta-se a um ritmo louco, quase não dando uma pausa para respirar. Como de costume, os irmãos fazem uma abordagem ao espectáculo de variedades, desconsiderando a narrativa saltando para gags e interpretações que eles desejavam fazer: Harpo a fazer um dos seus números habituais de harpa, ou Zeppo a cortejar a viúva vamp habitual, neste caso Thelma Todd. Claro que o filme é embalado com o genial jogo de palavras entre os irmãos, principalmente entre Groucho e Chico, cuja destreza verbal sempre impulsiona os filmes dos irmãos Marx.
Não é dos melhores filmes dos irmãos Marx, mas ainda assim é uma joia de cinema.
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A Culpa Foi do Macaco (Monkey Business) 1931
Mais uma pérola dos irmãos Marx, desta vez passada num cruzeiro. Quatro clandestinos num transatlântico metem-se na maior confusão quando são descobertos pelo capitão.
O cenário do cruzeiro é apenas uma desculpa para mover os irmãos Marx de uma situação cómica para outra, mesmo que não havendo qualquer ligação entre elas. Não que isso seja importante, claro. Pela primeira vez passam uma história directamente para o cinema, evitando as armadilhas do musical da Broadway, as acções dos irmãos Marx tornam-se assim deliciosamente mais transgressoras, atormentando a autoridade não por alguma razão especial, mas simplesmente porque podem. Isto foi uma abordagem que eles construiram com grande sucesso nos seus dois próximos filmes: "Horse Feathers" e "Duck Soup".
Na verdade, os 45 minutos que os irmãos Marx passam a bordo são do melhor da sua carreira, mas, depois de passarem pela alfândega o filme perde em acção e comédia. O final gira em torno de dois gangsters rivais, provavelmente para homenagear os filmes de gangsters que estavam tão na moda, mas não foi uma homenagem tão bem sucedida.
Os irmãos Marx funcionam melhor quando são uma ameaça para a sociedade, mas durante alguns momentos vemos a ordem subvertida, e é um pouco triste vê-los reduzidos ao papel de bobos da corte, mas até lá temos alguns dos melhores momentos desta equipa.
O filme estreou em Setembro de 1931 com críticas bastante razoáveis, chegando a ser comparado com "The Gold Rush", de Chaplin. Apesar de ter gerado lucro, não conseguia entrar na lista dos 10 filmes mais vistos do ano, facto que seria repetido nos dois filmes seguintes, mas já lá vamos.
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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
Os Galhofeiros (Animal Crackers) 1930
Captain Spaulding (Groucho), um famoso explorador, regressa de África e vai a uma festa de gala realizada pela Mrs. Rittenhouse. Um quadro que está a ser mostrado naquela festa desaparece, e os Marx vão ajudar a recuperá-lo. Quer dizer, talvez ajudar não seja a palavra correcta, mas afinal de contas são os irmãos Marx...
"Animal Crackers" é a segunda comédia dos irmãos Marx, mais um vez baseada num sucesso da Broadway, e tem alguns flashes de génio, que o colocam entre os mais interessantes trabalhos dos irmãos. Os irmãos estão no seu melhor quando interagem uns com os outros. Tanto este filme como o anterior, "The Cocoanuts", são filmagens integrais de sucessos de palco. É contado que os irmãos filmavam de dia para depois interpretarem os seus papéis na Broadway à noite.
Zeppo infelizmente não tem o mesmo carisma dos restantes irmão, os seus papéis eram sempre de jovens bonitos e ingénuos, nunca com o slapstick dos irmãos, não é por isso de admirar que ele mais tarde sairia da equipa, passando os Marx a apenas três. Groucho, por outro lado, tem sempre papéis muito complexos. Mais uma vez é o vigarista que consegue enganar toda a gente porque são todos snobs e hipócritas.
O verdadeiro quarto irmão Marx neste filme (e noutros), é Margaret Dumont. É a personagem perfeita para os insultos e avanços românticos de Groucho. Parece ter a memória de um mosquito, reagindo a insultos e de seguida ficando sem um pingo de amargura.
Não há muito humor intelectual nestes dois primeiros filmes, mas tanto os argumentistas como Groucho fazem um excelente trabalho. São duas belas obras.
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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
The Cocoanuts (The Cocoanuts) 1929
Mr. Hammer (Groucho) governa um hotel falido, na Flórida. Ele vai tentar tudo para fazer dinheiro, até fazer amor com a rica sra. Potter. Mas o seu principal esquema, a venda de imóveis está em risco de sabotagem por Chico e Harpo. Uma sub-trama envolve uma história de amor entre Polly Potter e Bob Adams.
Costuma-se dizer que "The Cocoanuts" foi o primeiro filme dos irmãos Marx, o que não é totalmente verdade. Em 1921 eles fizeram um filme mudo chamado "Humor Risk", filme esses que nunca passou da primeira preview, e que nunca teve lançamento comercial, tendo posteriormente ter-se perdido. Isto quer dizer que "The Cocoanuts" foi o primeiro filme sobrevivente dos irmãos Marx, e o primeiro filme falado dos irmãos. A chegada do som pode não ter sido a melhor coisa para alguns realizadores e estrelas de cinema, mas foi como uma benção para esta equipa. Eles já eram loucos, e agora os seus rápidos diálogos podiam ser preservados em película.
"The Cocoanuts" originalmente foi um sucesso da Broadway, escrito por um dos mais importantes dramaturgos da América: George S. Kaufman.Também continha canções de um dos compositores mais famosos da primeira metade do século, Irving Berlin, cujo tema chamado "White Christmas" se tornaria num dos temas padrões da música norte americana.
A fotografia foi prejudicada no início do cinema falado. As câmaras tinham de ser cuidadosamente colocadas para que não fossem filmadas. "The Cocoanuts" foi um sucesso de bilheteira, não só porque era um filme engraçado mas também porque isto era tudo novidade. E um sucesso da Broadway tinha sempre hipóteses de ser um sucesso no cinema.
Como a maioria das pessoas não podiam ir a Nova Iorque ver os irmãos Marx, o cinema levou os irmãos Marx até às pessoas. "The Cocoanuts" estreou uma série de personagens, que nunca mudaram de uns filmes para outros. Mas fizeram o mundo sorrir, e ainda fazem.
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domingo, 21 de dezembro de 2014
Os Irmãos Marx
Sempre houve algo diferente, e mesmo estranho, sobre os irmãos Marx, eles pareciam pertencer a um universo totalmente diferente dos outros comediantes, não só do estilo de comédia que faziam, mas também diferentes uns dos outros. Os membros de outras equipas de comediantes, como os Olsen and Johnson ou os irmãos Ritz, eram tão semelhantes que por vezes não se conseguia distingui-los. Outros tinham contrastes físicos bastante aparentes, como Laurel and Hardy ou Abbott and Costello. Os Marx, por outro lado, poderiam ser membros de 3 diferentes equipas: uma visual, uma verbal, e outra étnica e musical. Mas o que realmente unia estes irmãos, era um sentimento comum de realismo subversivo, cada um à sua maneira, anarquicamente absurdos.
Os irmãos Marx estiveram no seu auge na década de 20 do século passado na Broadway, e nos anos 30 em Hollywood, perderam fulgor na década de 40, e foram totalmente esquecidos na década de 50, antes de serem redescobertos na década de 60, por estudantes que apreciavam a sua postura anti-sistema.
Vamos atravessar este Natal, no M2TM com os filmes desta poderosa equipa. Boas gargalhadas, e um Bom Natal.
Os filmes:
- The Cocoanuts (1929)
- Animal Crackers (1930)
- Monkey Bussiness (1931)
- Horse Feathers (1932)
- Duck Soup (1933)
- A Night at the Opera (1935)
- A Day at the Races (1937)
- At the Circus (1939)
- Go West (1940)
- A Night in Casablanca (1946)
sábado, 20 de dezembro de 2014
O Touro Enraivecido (Raging Bull) 1980
Nos créditos iniciais de "Raging Bull" nasce um clássico. Jake La Motta (Robert De Niro) apanhado pela luz da fotografia a preto e branco de Michael Chapman, rodopia em volta de um ringue vazio. O tema de abertura de uma banda sonora operática de Pietro Mascagni é o único acompanhamento para a solidão de La Motta. É uma sequência tão lindamente e cuidadosamente composta que parece ficar presa ao nosso cérebro todo o resto do filme.
La Motta é um boxeur peso-médio, respeitado e temido, e conhecido pela sua capacidade de levar e aguentar mais porrada do que qualquer outro pugilista.Ele quer ganhar o título pelo seu próprio mérito, sem a ajuda de qualquer outra figura do underground que habitam o Bronx, em Nova Iorque. O seu irmão Joey, (Joe Pesci) é também o seu treinador, tenta negociar a ascensão de La Motta até ao top da divisão.
Pesci e De Niro - voltariam a reunir-se 10 anos mais tarde, para outra obra prima de Scorsese, "Goodfellas" - parecem ter nascido para estes papéis. A devoção de um actor para um papel nunca tinha sido tão testada como a de De Niro. O seu retrato do paranóico e profundamente pertrubado La Motta é preparado ao mínimo detalhe em cada cena. Uma interpretação ao nível do Travis Bickle de "Taxi Driver", mas ainda mais horripilante. Para se preparar para este papel De Niro passou por uma fase de treinos muito dura e longa, tendo mesmo até participado em três combates contra lutadores profissionais, tendo ganho dois. Depois ainda teve de engordar 26 quilos para interpretar um La Motta envelhecido, num período de apenas 4 meses em que não houve filmagens.
Quando o verdadeiro Jake La Motta viu o filme, confessou ter percebido a terrível pessoa que ele realmente foi. Perguntou à sua segunda esposa (Vicki), se era realmente assim, ao que ela respondeu "Eras pior".
De Niro ganhou um mais do que merecido Óscar, para além do prémio da montagem, mas o filme acabaria por perder o prémio de melhor filme, que foi ganho por "Ordinary People", de Robert Redford. 10 anos mais tarde "Raging Bull" era considerado o melhor filme da década de 80, com toda a justiça.
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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
Cidade Viscosa (Fat City) 1972
Um pequeno estudo de personagens sobre dois boxeurs em diferentes fases da carreira. Stacy Keach interpreta Billy Tully, um ex-lutador que perdeu um grande jogo, e desde então nunca mais foi o mesmo, mas anda a tentar um regresso. Jeff Bridges é Ernie, um jovem que tenta alcançar sucesso no ramo do boxe, mas também já se vê numa encruzilhada, porque este mundo não é exactamente o que ele pensava.
"Fat City" não pode ser julgado como um filme típico, porque não tem um argumento tangível, mas sim uma fatia da vida destas duas pessoas, interligadas por um breve período de tempo. É um mergulho num mundo que, provavelmente, de outra forma nunca iríamos conhecer, e a experiência como um todo beneficia muito das caracterizações muito extremas e das situações que desafiam a previsibilidade, em grande parte graças a uma grande dose de realismo.
As interpretações são todas de grande qualidade, com Keach a ter um dos melhores papéis da sua carreira. Grande destaque também para a interpretação de Susan Tyrrell, o interesse romântico de Tully, numa perfomance que é trágica e engraçada ao mesmo tempo, que lhe rendeu uma nomeação ao Óscar de Melhor Actriz Secundária, única nomeação do filme, e também da actriz.
Subtil, mas de muitas formas, "Fat City" é um dos melhores filmes a retratar o mundo do boxe, dando-nos um vislumbre sobre o que leva estes a entrarem no ringue, e darem tudo por tudo em palco. Infelizmente é dos filmes mais esquecidos da carreira de John Huston, já quase na sua fase final. A década de 70 talvez tenha sido das menos gloriosas para o realizador, mas alguns dos seus filmes neste período acabaram por se tornar em obras de culto. Para além deste, falamos de "The Life and Times of Judge Roy Bean", "The MackKintosh Man" ou "The Man Who Would be King".
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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
Um Homem e o seu Destino (Requiem for a Heavyweight) 1962
Mountain Rivera (Anthony Quinn) tem o seu último combate de boxe contra Cassius Clay, e está fora pela contagem depois de 7 rounds. Rivera é arrasado, arriscando a cegueira se lutar de novo. O problema é que o empresário de Rivera Maish (Jackie Gleason), fez uma grande aposta que Rivera seria derrotado não depois do quarto round. Maish tem assim de pagar o dinheiro que perdeu, e está desesperado para vencer uma aposta que cubra a aposta que perdeu, nem que para isso Rivera tenha de vender a alma ao diabo. Junto com Army (Micky Rooney), os três já trabalham juntos há 17 anos.
"Requiem for a Heavyweight" é um grande filme, não apenas pela sua humanidade, mas também pela forma como foi feito. O argumento de Rod Serling é lúcido e profundamente apaixonante, económico, e nunca melodramático. Atrás das câmeras está Ralph Nelson, em estreia absoluta nas longas metragens apesar de já ter bastante experiência na TV, que foi um realizador que nunca conseguiu alcançar a fama, também porque nunca escolheu os caminhos mais fáceis. Dele é, por exemplo, "Soldier Blue", um dos filmes mais violentos a saír de um estúdio americano.
É difícil definir um filme de desporto como algo que valha a pena, num género que já há muito perdeu a originalidade. Dentro do "filme de desporto" o boxe é um movimento à parte, como é o caso deste "Requiem for a Heavyweight". Há um grande uso da fotografia a preto e branco, inclusive para as sequências sem combates, como o jogo de luzes na cena em que Jackie Gleason é encurralado por bandidos. O trabalho de câmera é excelente em todas as áreas, especialmente nos combates, em especial logo no primeiro.
Quinn, que na altura já tinha ganho dois Óscares da Academia, tem uma das suas interpretações mais sólidas da sua carreira. O seu adversário no primeiro combate era Cassius Clay, então um jovem com 20 anos, mas que se tornaria no grande campeão Muhammad Ali.
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terça-feira, 16 de dezembro de 2014
Marcado Pelo Ódio (Somebody Up There Likes Me) 1956
Rocky Graziano (Paul Newman) está a tentar evoluir no mundo do crime quando é finalmente apanhado e preso. Na cadeia, ele é indisciplinado e está sempre a envolver-se em sarilhos. Quando sai passados vários anos decide começar uma nova vida. Rocky descobre que consegue ganhar algum dinheiro a lutar boxe e é rapidamente aclamado como um novo talento do pugilismo.
Esta é a verdadeira história de Rocky Graziano, e segue-o desde a altura em que ele cometia crimes, passando uma temporada temporada na cadeia e no exército, até se tornar campeão do mundo de pesos-médios. Ao contrário do que indica o título do filme, ninguém lá em cima estava a olhar pelo filme. A produção acidentada começou com a morte do primeiro protagonista do filme: James Dean. A história do pugilista Rocky Graziano era da preferência de Dean, que queria muito interpretar o pugilista, e iria voltar a juntá-lo ao seu co-protagonista de "Rebel Without a Cause", Sal Mineo, e colocá-lo ao lado da sua namorada de fora do grande ecrã, Pier Angeli. O novo protagonista era Paul Newman, já com a idade de 31 anos era considerado demasiado velho, e canastrão, para o papel do pugilista. A estreia de Newman em "The Silver Chalice" tinha sido um fracasso, mas este filme iria colocá-lo no mapa.
Newman mergulhou profundamente no papel, e retirou uma interpretação de alto calibre, muito diferente que o público se habituou nos seus filmes mais famosos. O filme foi rodado nas ruas de Nova Iorque, num belíssimo preto e branco, com uma fotografia que acabaria por ganhar um Óscar.
Com dois filmes sobre o mundo do boxe tão importantes, a saírem no mesmo ano, começava-se a adivinhar um grande futuro para os filmes sobre este desporto, que continua a ser o desperto mais bem retratado no cinema. Para além de todos estes pormenores, também era o filme que lançava actores como Steve McQueen, Robert Loggia, ou Robert Duvall, em papéis muito secundários. A realização estava a cargo de Robert Wise, um realizador já com um percurso de respeito em Hollywood, que tinha feito, por exemplo, a montagem de "Citizen Kane". Este filme ganhou 2 Óscares.
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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
A Queda de um Corpo (The Harder they Fall) 1956
Humphrey Bogart interpreta no papel de Eddie Willis, um antigo comentador desportivo que junta forças com um corrupto promotor de boxe chamado Benko (Rod Steiger).Juntos, preparam um plano para enganar Toro Moreno (Mike Lane), um boxeur gigante pobre de espírito com mais de dois metros de altura. Através de uma série de combates forjados preparados cuidadosamente, Toro é levado a acreditar que é um sério candidato ao título...
Este seria último filme de Bogart, onde ele tem um desempenho contundente e fantástico no papel de um jornalista desportivo. Adaptado de um romance de Budd Schulberg com um argumento clínico de Philip Yordan e realizado por Mark Robson, era uma mistura corajosa entre melodrama e thriller. O filme é baseado na carreira do boxeur Primo Carnera, um gigante italiano que se tornou campeão de pesos pesados em 1933-34. O verdadeiro Carnera processou a Columbia Pictures pelas supostas combinações de resultados retratadas no filme, mas acabou por perder em tribunal. "The Harder They Fall" serve como uma exposição do controle da Máfia sobre o mundo do boxe.
Filme bastante corajoso e potente para a época, o realizador Mark Robson entrega-nos algumas sequências brutais de combate, e até certo ponto mostra-nos um "documentário" realista sobre um lutador cujo corpo já foi tão torturado que já nem está em condições de começar um trabalho real.
Conseguiu uma nomeação ao Óscar de melhor fotografia (Burnett Guffey), e fez parte da selecção oficial para Cannes, em 1956. Estreado em Abril de 1956, Bogart viria a falecer no ínicio do ano seguinte, com 57 anos.
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domingo, 14 de dezembro de 2014
O Boxe e o Cinema
O boxe e o cinema já há muito que gozam de uma relação. O primeiro combate de boxe a ser filmado foi em 1894, quando o protegido de Thomas Edison, William K.L. Dickson, filmou um combate entre Jack Cushing e Mike Leonard, conhecido como o ‘Beau Brummell’ do pugilismo. Apenas 37 segundos do combate foram filmados, e hoje em dia ninguém quer saber que Leonard ganhou, mas o vínculo forjado entre o boxe e o cinema não mais acabou.
O boxeur e o boxe são figuras proeminentes no cinema de Hollywood, com aparições em mais de 150 filmes desde a década de 30. A época entre 1975 e 1985 foi a mais importante para este sub-género, graças ao grande sucesso comercial da saga "Rocky", e ao sucesso crítico de "Raging Bull", de Martin Scorcese, mais tarde considerado o melhor filme da década de 80.
Nesta pequena homenagem que farei ao boxe durante esta semana, escolhi 5 filmes em que a acção se passa não só dentro, mas também fora dos ringues de boxe. Em alguns casos o boxe é a referência principal do filme, noutros apenas serve de background para a acção principal.
Não são obrigatoriamente os melhores filmes sobre o mundo do boxe, mas aqui fica a minha escolha para esta semana:
Segunda: The Harder They Fall (1956), de Mark Robson
Terça: Somebody Up There Likes Me (1956), de Robert Wise
Quarta: Requiem for a Heavyweight (1962), de Ralph Nelson
Quinta: Fat City (1972), de John Huston
Sexta: Raging Bull (1980), de Martin Scorcese
Boa semana para todos.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
A Mulher Sem Cabeça (La Mujer Sin Cabeza) 2008
Verónica está ao volante do seu automóvel quando, num momento de distracção, atinge qualquer coisa e foge amedrontada. Nos dias seguintes, sente-se como que a desaparecer, indiferente às coisas e às pessoas que a rodeiam. Depois de confessar ao marido que atropelou alguma coisa na estrada, regressam ao local do acidente e descobrem um cão morto. Mas quando a vida parece retomar a normalidade, um cadáver é descoberto...
O que se segue é um retrato de uma pessoa totalmente fora de sincronia com a sua própria existência. Este não é um assunto particularmente novo na história do cinema, especialmente para quem está familiarizado com realizadores como Michelangelo Antonioni ou Luis Buñuel, dois mestres incomparáveis frequentemente invocados na promoção deste filme. No entanto, a realizadora/argumentista Lucrecia Martel, imensamente ajudada pelo trabalho de câmera de Bárbara Álvarez, cumpre o seu trabalho com esforço confiante e uma expressiva estética dela própria.
Descobrimos que a vida de Verónica não é apenas o que parece. A carreira, a família, e uma infidelidade ou duas começam lentamente a entrar em foco, assim como uma implícita auto-culpa. Mas o título de A Mulher Sem Cabeça não é uma parábola. É mais o retrato psicológico de uma pessoa para sempre condenada a ser um "voyeur" da sua própria vida, algo que a mudança da côr do cabelo pode corrigir apenas exteriormente.
Martel já vinha a revelar-se desde o início da década, e esta era já a sua terceira obra de uma carreira bastante promissora. Concorria a Cannes pela segunda vez, mas ainda não era desta que a realizadora argentina era premiada. Já há muito que deixou de ser uma promessa do cinema Argentino, e passou a ser uma certeza.
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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
Luna de Avellaneda (Luna de Avellaneda) 2004
"Luna de Avellaneda conta a história de um clube desportivo e cultural de um bairro de Buenos Aires que viveu no seu passado uma época de esplendor e cuja existência actualmente se encontra em perigo. A única saída possível parece ser vendê-lo para que se converta num casino, e os descendentes dos seus fundadores terão que debater-se entre a viabilidade do projecto e o reencontro com o sonho idealizado por eles. Róman (Darín) nasceu nesse mesmo clube, no meio de uma noite de festa e foi nomeado sócio vitalício. 45 anos mais tarde, como membro da direcção, ele terá que pesar o papel do clube na sua vida e na vida daqueles que o cercam.
Depois do belíssimo O Filho da Noiva era legítimo ter elevadas expectativas deste Luna de Avellaneda. E nesta história sobre o quotidiano, Campanella dá-nos um filme nada quotidiano, que sendo de entretenimento não abdica da qualidade de realização e interpretação.
O papel de Darín tem algumas semelhanças com o de O Filho da Noiva, especialmente na qualidade da representação de um homem que luta mais facilmente pelos seus valores fora de casa do que dentro dela, dando mais atenção aos estranhos que à sua própria família. Um personagem tão terno e real, na sua imperfeita humanidade, que é impossível não gostarmos dele. A parceria de Darín com Blanco, repetida também neste filme, evidencia uma química pouco comum. Num registo patético e sentimental, Blanco traduz todo o ridículo dos apaixonados numa relação atribulada com uma sonhadora Bertucelli. Morán está deliciosa como mãe divorciada, ressentida e amargurada.
A competência de Campanella revela-se no argumento, na direcção de actores e no desenho da produção, onde planos gerais e de detalhe se alternam, fazendo o contraste entre a conveniência pessoal e o bem comunitário: o eterno dilema.
Um grupo de perdedores que se negam a renunciar à importância das relações humanas no seio de uma comunidade. Apesar da melancolia em que se instalaram, procuram no grupo o consolo de um mundo sem valores, assumindo a culpa do seu fracasso, mas sem perder a esperança de conseguir uma vida melhor.
O clube Luna de Avellaneda, que dá nome ao filme, é aqui a metáfora de uma sociedade que, hoje em dia, apresenta uma saúde muito debilitada. Acredito que os argentinos em particular leiam aqui um relato honesto da sua realidade.
O aviso que este filme nos faz é que a derrota não é provocada pelo passar dos anos, mas pela perda do sonho, essa luz da lua cheia que Don Aquiles (López Vázquez) quer ver antes de morrer. Mas a vida não torna as coisas fáceis, não nos deixando mais remédio que trabalhar, lutar e respeitar as regras de um jogo por vezes perverso.
A exemplo do anterior O Filho da Noiva (2001) e de Nove Rainhas (2000), de Fabián Bielinsky, este Luna de Avellaneda vem confirmar que o cinema argentino está de boa saúde e recomenda-se."- Por Rita, Daqui.
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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
O Abraço Partido (El Abrazo Partido) 2004
Em Buenos Aires, um jovem judeu- argentino chamado Ariel Makaroff deixa a universidade de arquitectura e passa o tempo a deambular pela galeria do centro onde a sua mãe tem uma loja de lingerie e o seu irmão gere um negócio importante, tentando obter o passaporte polaco para voltar para a Europa. Ariel nunca percebeu porque o seu pai o deixou, ainda bébé, para lutar na guerra de Yom Kippur, em 1973. Quando o seu pai regressa a Buenos Aires, Ariel descobre a razão porque o pai deixou a família...
O realizador argentino Daniel Burman é muitas vezes comparado a Woody Allen, e há de facto algumas similaridades: ambos são judeus e preocupam-se com o significado de ser judeu, e ambos têm uma sensibilidade essencialmente cómica, com a qual exploram questões sérias sobre as relações humanas. No entanto, "El Abrazo Partido" não tem muito a ver com a obra de Allen, principalmente porque Burman está interessado em evocar um lugar em particular (uma espécie de centro comercial em Buenos Aires), enquanto os filmes de Allen têm lugar numa Nova Iorque estilizada, que não existe para além da imaginação do realizador. Burman também é menos cómico do que Allen, o seu humor é mais casual e observacional.
"El Abrazo Partido" introduz-nos a uma Argentina multiétnica de que a maioria dos estrangeiros não estarão cientes. A maior parte do filme passa-se num espaço movimentado, o shopping, e Burman quer que esta seja uma história de pessoas. As personagens secundárias, como alguns lojistas, não são muito bem tratadas, e como Burman estava com receio de fazer um verdadeiro filme de conjunto, retira-se para uma estratégica mais segura, numa narrativa que se concentra num único protagonista.
Filmado em Vídeo Digital, o trabalho de "câmara no ombro" dá uma grande intimidade ao filme. Tal como outros filmes do seu país, correu alguns festivais pelo mundo fora, tendo ganho em Berlim o prémio de Melhor Actor e o Grande Prémio do Juri.
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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
Querem ser programadores do M2TM durante uma semana?
Durante este natal vou realizar um passatempo, que dará como prémio ao vencedor organizar um ciclo durante uma semana. Só terão o trabalho de escolher os cinco filmes dessa semana.
Para participarem terão de entrar no grupo do M2TM, aqui, onde uma vez por dia será publicada uma foto de um filme já anteriormente postado no blog, neste e no anterior.
Quem adivinhar mais fotos será o vencedor, e o passatempo irá prolongar-se até dia 10 de Janeiro. Começa na quarta-feira.
Para participarem terão de entrar no grupo do M2TM, aqui, onde uma vez por dia será publicada uma foto de um filme já anteriormente postado no blog, neste e no anterior.
Quem adivinhar mais fotos será o vencedor, e o passatempo irá prolongar-se até dia 10 de Janeiro. Começa na quarta-feira.
Nove Rainhas (Nueve Reinas) 2000
A história de Nove Rainhas, passa-se na Buenos Aires dos dias modernos, começando numa madrugada e terminando na manhã do dia seguinte. Nestas 24 horas ou pouco mais, Marcos (Ricardo Darín) e Juan (Gaston Pauls), os seus protagonistas, passarão pela maior aventura das suas vidas, algo que Marcos insiste em chamar de "uma oportunidade em um milhão". Estes dois golpistas de segunda categoria, que habitualmente "trabalhavam" por poucos pesos, conhecem-se por acaso numa certa madrugada e, de repente, tornam-se sócios numa negociação multimilionária envolvendo uma série falsificada de selos raríssimos, conhecidos como as "Nove Rainhas".
"Nove Rainhas" é muito menos previsível do que o público poderia esperar, porque Bielinsky combina o género do "heist movie", como se tratasse de um "buddy movie". Marcos, como se vê, é uma personagem fria e sem coração, para quem os seus parceiros não passam de presas. Ele seria o pior parceiro que um jovem ingénuo e inexperiente como Juan poderia ter. Se não fosse pelo facto que Juan tem um talento para a improvisação, e um rosto em que as pessoas pudessem confiar, ele estaria condenado a ser um mero ajudante de Marcos.
"Nove Rainhas" marca a estreia na realização de Fabian Bielinsky, um realizador que vinha lutando para realizar a sua primeira longa metragem até que conseguiu ganhar um concurso para a redação de um argumento, à frente de outros 300 concorrentes. Este filme, "Nove Rainhas", tornou-se um sucesso enorme na sua terra natal, varrendo bilheteiras por completo, tornando Bielinsky num realizador famoso e arrecadando alguns prémios importantes. Mais tarde estreou nos Estados Unidos, e em países da Europa como Espanha, França, e Reino Unido onde também conseguiu um sucesso notável.
Foi premiado em vários festivais pelo mundo fora, inclusivé Portugal, onde em 2002 ganhou o prémio do Argumento no Fantasporto. O seu segundo filme, "Aura", lançado em 2005, foi considerado uma obra-prima do neo-noir, mas a sua carreira terminou cedo, pois ele faleceu em 2006, com apenas 47 anos.
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Mundo Grua (Mundo Grua) 1999
Rulo, um operador de gruas de 50 anos, carrega com dignidade o peso de uma vida com demasiados dissabores e alguns, fugazes, momentos de glória. Nos anos 1970 foi tocador de baixo numa famosa banda de rock mas, hoje, está divorciado e enfrenta a sua dura profissão de operador de gruas. A seu cargo tem Cláudio, o seu filho adolescente, e procura sustentar a sua vida e lutar contra a ameaça do desemprego. Quando um novo trabalhador chega e toma o seu lugar, Rulo é forçado a trocar Buenos Aires por um emprego precário em Comodoro Rivadavia, 2000 quilómetros a Sul da capital. Rulo acaba por ter que deixar o seu novo amor, Adriana – uma vendedora de sandes que costumava ser uma grande fã da sua banda -, e o seu filho, que espera seguir os passos do pai e formar a sua própria banda.
"Mundo Grua" é a primeira longa-metragem do argentino Pablo Trapero, realizada quando ele tinha apenas 28 anos, sendo ele um dos primeiros realizadores desta nova geração a revelar-se. A sua premissa, à primeira vista, parece a mesma de uma das suas primeiras curtas, chamada "Negócios", uma curta de 17 minutos que ele filmou em 1995. Conta uma história simples, de um modo simples, com personagens credíveis. Ao princípio esta premissa parece pouco, mas com o tempo converte-se em algo mais.
Trapero aposta forte na naturalidade, basicamente gravando cenas flexíveis, ao estilo de um documentário-ficção, abrindo o jogo para a improvisação dos actores, muitos deles amadores. Isto funciona melhor com os profissionais de carreira (Adriana Aizemberg e Daniel Valenzuela), e alguns não profissionais, e não tanto com o protagonista, que se arrasta com tiques da curta metragem em que já tinha participado: "Negócios".
Em termos de divulgação, "Mundo Grua", correu o mundo em Festivais, tendo ganho dois prémios no festival de Veneza de 1999. Em Portugal passou pelo IndieLisboa de 2005.
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sábado, 6 de dezembro de 2014
Cinema Argentino Contemporâneo
A Argentina tem sido conhecida, especialmente no mundo da língua espanhola, pela qualidade na sua indústria cinematográfica, ainda que tenha enfrentado a repressão e a censura durante a década de 70, que reduziu drasticamente a quantidade de filmes realizados no país. Os efeitos deste período foram transportados para a década seguinte, com os filmes a tratarem do assunto que viria a ser conhecido como a "guerra suja". Apesar da ausência de risco nos filmes da década de 80, houve excepções, como o caso de "A História Oficial" (1985), que ganhou o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro.
A década de 90 marcou uma nova fase no cinema argentino, com a estagnação das décadas anteriores a levarem um grupo de jovens realizadores a lutarem para recuperar a identidade cinematográfica do país, e mostrar a nova realidade que se focava menos nos eventos do passado, e mais nos problemas sociais enfrentados pelos argentinos.
O crescimento das escolas de cinema em meados dos anos 90 e a criação de novos festivais, como o Mar de Plata e o Bafici tornaram-se uma plataforma e um modo dos novos realizadores mostrarem o seu trabalho.
Assim, os realizadores que emergiram em meados dos anos 90, são colectivamente considerados parte do "Novo Cinema Argentino", mas são, na verdade, um grupo muito díspar, com tendências estilísticas muito particulares. No entanto, eles estão ligados por uma determinada contemporaneidade, misturando levemente a realidade e a ficção. Este novo cinema estava mais preocupado em criticar a sociedade moderna da Argentina e mergulha nas vidas das personagens com um tal detalhe que nos podemos ver em alguns detalhes que são comuns a qualquer ser humano.
Escolhi para este ciclo cinco filmes, cada um de um realizador diferente, para que fiquem com uma idéia do que era o cinema daquele país. São cinco, podiam ser mais, e também deixei de fora, "El Secreto de Sus Ojos", de Juan José Campanella, por ser o mais popular, e assim vos dar a conhecer outro menor do mesmo realizador. Espero que gostem do ciclo, a partir de Segunda-Feira.
Segunda: Mundo Grúa (1999), de Pablo Trapero
Terça: Nueve Reinas (2000), de Fabián Bielinsky
Quarta: El Abrazo Partido (2004), de Daniel Burman
Quinta: Luna de Avellaneda (2004), de Juan José Campanella
Sexta: La Mujer Sin Cabeza (2008), de Lucretia Martel
A década de 90 marcou uma nova fase no cinema argentino, com a estagnação das décadas anteriores a levarem um grupo de jovens realizadores a lutarem para recuperar a identidade cinematográfica do país, e mostrar a nova realidade que se focava menos nos eventos do passado, e mais nos problemas sociais enfrentados pelos argentinos.
O crescimento das escolas de cinema em meados dos anos 90 e a criação de novos festivais, como o Mar de Plata e o Bafici tornaram-se uma plataforma e um modo dos novos realizadores mostrarem o seu trabalho.
Assim, os realizadores que emergiram em meados dos anos 90, são colectivamente considerados parte do "Novo Cinema Argentino", mas são, na verdade, um grupo muito díspar, com tendências estilísticas muito particulares. No entanto, eles estão ligados por uma determinada contemporaneidade, misturando levemente a realidade e a ficção. Este novo cinema estava mais preocupado em criticar a sociedade moderna da Argentina e mergulha nas vidas das personagens com um tal detalhe que nos podemos ver em alguns detalhes que são comuns a qualquer ser humano.
Escolhi para este ciclo cinco filmes, cada um de um realizador diferente, para que fiquem com uma idéia do que era o cinema daquele país. São cinco, podiam ser mais, e também deixei de fora, "El Secreto de Sus Ojos", de Juan José Campanella, por ser o mais popular, e assim vos dar a conhecer outro menor do mesmo realizador. Espero que gostem do ciclo, a partir de Segunda-Feira.
Segunda: Mundo Grúa (1999), de Pablo Trapero
Terça: Nueve Reinas (2000), de Fabián Bielinsky
Quarta: El Abrazo Partido (2004), de Daniel Burman
Quinta: Luna de Avellaneda (2004), de Juan José Campanella
Sexta: La Mujer Sin Cabeza (2008), de Lucretia Martel
Kin-Dza-Dza! (Kin-Dza-Dza!) 1986
Os dois personagens principais do filme, o Tio Vova e Wef, o violonista acidentalmente vão parar a outro planeta, depois de apertarem o botão errado de um estranho dispositivo que se encontrava na posse de um estranho, que eles pensam ser um alien. Vão parar ao planeta "Plyuke" na galáxia "Kin-Dza-Dza", onde todos têm aparência humana e compreendem russo depois de lerem a mente do Tio Vova. Os habitantes deste planeta comunicam de forma telepática, e o seu alfabeto tem apenas 11 palavras. A civilização do planeta parece ser mais avançada, mas por outro lado, do ponto de vista social Plyuke é um mundo completamente bárbaro, e está dividido em duas classes, os mais poderosos de um lado, e os mais pobres do outro.
A redução ao absurdo é conseguida através da humilhação a que os humanos se têm de sujeitar, para encaixarem numa sociedade estranha e injusta, e conseguir regressar à Terra. Os comportamentos bizarros dos aliens, são estranhos à primeira vista, mas tornam-se familiares e lógicos à medida que os personagens humanos (e o espectador) os vão aprendendo.
Uma das definições mais interessantes sobre este filme é que já o consideraram o "melhor filme de ficção científica que ninguém ouviu falar". Um filme que é tanto uma sátira politico-social como um filme russo distópico, algo poucas vezes visto na história do cinema. Obra-prima da ficção científica minimalista e inteligente dos anos 80. Escrito e realizado por Georgi Daneliya, "Kin-Dza-Dza" é uma rica crítica ao comunismo carregado com o humor pungente que seria de esperar de um filme da era soviética, numa paisagem influenciada pelos filmes da familia do "Mad Max".
Poucas vezes visto, tornou-se numa obra de culto. Em Portugal foi exibido no Fantasporto de 1988, tendo ganho o Grande Prémio do Júri. Recentemente teve um remake animado.
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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014
Missão sexual (Seksmisja) 1984
Dois cientistas são escolhidos como cobaias para uma experiência temporal: são colocados em estado de hibernação, para serem acordados três anos depois. Entretanto, rebenta a III Guerra Mundial, e a vida é irradiada da superfície da terra. Quando eles acordam, descobrem que não só passaram 50 anos como também são os únicos exemplares do sexo masculino vivos, numa nova sociedade que vive debaixo do solo e composta unicamente por mulheres.
O filme contém numerosas à realidade da sociedade do bloco comunista, particularmente para o da República da Polónia, mesmo antes da queda do comunismo, talvez na expectativa dos grandes eventos que estavam por vir, a queda do comunismo e a ascenção da liberdade política. Quando Max e Albert escapam, saltam a parede que de seguida começa a tremer. As reuniões secretas das mulheres e as suas mentiras são paralelas ao regime comunista da Polónia. Esta dimensão do filme parece escapar ao espectador distante do contexto. Alguns destes detalhes foram deixados de fora da versão que passou nos cinemas polacos, mas outras foram deixadas passar. O filme também pode ser visto como uma sátira entre géneros, puritanismo ou totalitarismo.
O filme é muito popular na Polónia. Foi proclamado o melhor filme polaco dos últimos 30 anos numa poll realizada em 2005 pelas três revistas de cinema mais populares da altura. No entanto, uma avaliação do público tem os seus prós e os seus contras. Recebeu o Złota Kaczka Award para melhor filme em 1984, uma espécie de Óscar polaco. Em Portugal foi mostrado no festival da Figueira da Foz e no Fantasporto.
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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
Eolomea (Eolomea) 1972
Oito naves de carga desaparecem no espaço sem deixar rasto, no espaço de apenas três dias. A estação espacial "Margot" de repente ficou em silêncio. O concelho do espaço depara-se com um mistério, e a cientista encarregada, Maria Scholl, não vê outra solução senão mandar parar toda a frota de naves neste misterioso sector do espaço. O seu colega, o Prof. Tal, parece misterioso, uma vez que sabe de coisas antes de elas acontecerem. Descobre-se que ele fazia parte do projecto Eolomea, um projecto proibido que nunca teve aprovação superior.
O trailer (visto no DVD de outros dois filmes da DEFA, "The Silent Star" e "In the Dust of the Stars"), sugere que este será um filme de suspense, talvez com um monstro de olhos esbugalhados invisível. No entanto Eolomea tem um conflito invulgar: burocracia centralizada versus exploração espacial. É interessante ver esta idéia num filme da Alemanha Oriental, mas o filme em si é lento e instável enquanto vai mudando de segmentos. Tal como "In the Dust of the Stars" é uma grande metáfora para os ideais comunistas e política sofisticada que são suficientemente estranhos aos olhos ocidentais, para causarem um bom efeito. "Eolomea" trabalha especialmente na abordagem dos problemas da responsabilidade do governo, versus uma parte do objectivo maior da humanidade.
Em comparação com os filmes americanos da época, nos alemães, as mulheres não podiam ter posições de poder sobre os homens a não ser que estivessem apenas a aguardar que os homens a as derrubassem e assumissem o seu lugar. Mas a professora Scholl é capaz de manter toda a sua sexualidade feminina e ainda manter um romance sem perder o respeito pelos seus pares.
Legendas em inglês.
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terça-feira, 2 de dezembro de 2014
A Décima Víctima (La Decima Vittima) 1965
O filme não perde tempo para nos levar até ao centro da história. Começamos com um homem armado a perseguir uma mulher. Um polícia pára o atirador e inspeciona a sua arma, para o deixar seguir de seguida, e continuar a sua caça. Este evento, conhecido como “The Big Hunt”, era uma forma de violência legalizada. As regras são simples, e dizem que cada participante deve participar em 10 caçadas - cinco das quais são caçadores, e as outras cinco são caçados. “The Big Hunt” é controlada por um serviço electrónico, em Geneve. Cada caçador sabe tudo sobre a sua vítima, mas a vítima não sabe quem é o seu caçador, e deve descobri-lo e "despachá-lo"...
Baseado numa história curta de 1953, Seventh Victim" de Robert Sheckley, este filme de 1965 era uma co-produção entre a França e a Itália, com Ursula Andress como Caroline Meredith, uma bela caçadora que caça a sua décima vítima. A sua víctima é Marcello Poletti (Marcello Mastroianni), outrora um homem rico, a quem a sua ex-mulher abandonou, sem dinheiro.Marcello sabe que está a ser caçado, mas não identifica imediatamente quem é o seu perseguidor.
Para um filme de 1965, "The 10th Victim" é um comentário interessante sobre a ganância social e o marketing de produtos. Mostra a humanidade como produto e objecto material. Enquanto Caroline caça a sua presa, e Marcello se ilude com a sua caçadora, a situação é patrocionada por empresas de bebidas, como se tudo fosse um grande jogo e o acto final fosse a morte. Toda esta publicidade de produtos num cenário virtual de assassinato dá impulso a uma total decadência da sociedade moral. "The 10th Victim" estava muito à frente do seu tempo, a década de sessenta. Embora tenha algumas situações cómicas, é um filme muito elegante, que faz bom uso de cenários futuristas.
Realizado por Elio Petri, que mais tarde ficaria conhecido pelos seus brilhantes filmes políticos. Mas aqui já se encontrava muita alegoria política.
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Legendas
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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
Viagem ao Fim do Universo (Ikarie XB 1) 1963
O ano é o de 2163. Uma gigantesca nave espacial transportando colonos para um novo planeta, mete-se em problemas inesperados quando cruza com uma nave alienígena abandonada apenas habitada por cadáveres. Começam a surgir problemas nos computadores de bordo, e começam a nascer tensões entre os membros da tripulação e os passageiros.
Realizado pelo checo Jindřich Polák, este muito imitado e pioneiro filme, "Ikarie XB 1" é uma das peças fundamentais da ficção científica contemporânea. Antecedeu filmes como "Star Trek" e "2001: A Space Odyssey" e foi claramente uma influência em ambos, bem como em quase todos os filmes de sci fi que se seguiram.
Adaptado do livro de Stanisław Lem "The Magellanic Cloud", de 1955, o filme é passado num futuro longínquo, e segue uma missão para encontrar vida extraterrestre nas profundezas do espaço. Durante uma perigosa missão a tripulação vai enfrentar os efeitos de uma estrela da morte, e os limites da sua própria loucura. Com um fabuloso design e fotografia está imbuído com uma grande seriedade, inteligência e atenção ao detalhe, raramente visto no cinema de ficção científica da altura.
O assistente de Kubrick, Anthony Frewin, confirmou que o realizador viu "Ikarie" como parte de uma pesquisa de pré-selecção para o famoso filme. Uma das razões que o levou a avançar para "2001" foi porque ele via uma grande escassez de inteligência nos filme de Sci Fi de grande orçamento, mas tal não acontecia com Ikarie, que considerou um passo importante para dimensionar o género. Muitas idéias conceituais e de design foram aproveitadas para o filme de Kubrick, os fatos espaciais são muito similares assim como a iluminação interior, os corredores hexagonais, as chamadas telefónicas para os entes queridos, a quantidade de atenção dada aos detalhes não narrativos, e o tema predominante de procurar por algo não especificado, entre outras coisas.
No geral é uma peça realmente interessante de ficção científica, que surpreendeu muita gente quando foi lançado. O twist final foi cortado e substituído pelo distribuidor americano para um final muito mais feliz, mas o final original foi reposto quando o filme foi lançado em DVD, como esta versão aqui presente.
Legendas em inglês.
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